Tambo: “um grande locutor”!

Tambo – É impressionante o talento (quase) nato evidenciado por muitos jovens e adolescentes e a forma como tem sido privilegiado o cultivo do domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) nas mais variadas instituições académicas nacionais e não só, o que é de louvar.

Efectivamente, para os menos jovens, estar, hoje em dia, por algumas horas em “convívio” com os mais jovens e ou/adolescentes, não raras vezes chega a ser penoso pela ausência de convívio propriamente dito e pela quantidade de selfies e tempo de ocupação com os smartphones e outros “brinquedos” da área das TICs.

Com a proliferação das TICs na “malta jovem”, parece que em proporção inversa marcha o nível de domínio de cultura geral.

Tive a oportunidade de passar uns quatro dias rodeado de jovens de diversos países africanos, incluindo moçambicanos, nos últimos dois dias de 2017 e primeiras 48 horas de 2018.

Foi impressionante notar o grau de domínio das TICs e a paixão quase doentia pelos selfies por parte de muitos deles.

Decepcionante foi notar fragilidades cavadas no que ao domínio da cultura geral tange em alguns deles, o que deve começar a preocupar quem de direito. As conversas eram sempre animadas e decorriam em diversos idiomas, com destaque para o inglês, português, francês, swahili, tswana, ndebele, pedhi, xona e por aí fora.

A dada altura da cavaqueira parte dos moçambicanos conversava no idioma de Luís de Camões e um jovem tanzaniano quis saber que língua era aquela, ao que de imediato outro jovem moçambicano respondeu tratar-se da língua portuguesa.

Haaam! E vocês são de onde?”, perguntou o jovem tanzaniano.

De Moçambique”, retorquiu o moçambicano.

Onde fica Moçambique?”, indagou o tanzaniano.

Visivelmente espantado, o moçambicano tentou explicar e foi ao detalhe de explicar que a Frelimo foi criada na Tanzânia e que o actual presidente de Moçambique nasceu na terra que teve como primeiro presidente pós-independência Julius Nyerere.

Really (Realmente?)”, exclamou o tanzaniano…

Pensava eu ter testemunhado uma das maiores barbaridades culturais da minha vida, tendo em conta que se tratava de um grupo de jornalistas e quadros de outras áreas de comunicação social, portanto, com bases culturais razoáveis.

Engano meu.

Já no aeroporto principal de Joanesburgo, um jovem moçambicano apontou para a pequena estátua ali erguida em homenagem à figura cujo nome foi dado àquela infra-estrutura, recordando ao outro que “foi ali que tirámos a primeira selfie depois de desembarcar do avião

Perguntei se se recordava do nome da figura homenageada através da pequena estátua (porque lhe dissera o nome quando fez o registo para a posterioridade dias antes) e, depois de gaguejar, balbuciou erradamente o nome, que de prontos corrigi.

De seguida perguntei se sabia quem era Oliver Reginaldo Tambo (O.R. Tambo). A resposta não tardou: “foi um grande locutor”!

Corrigi, mas não consegui conter a vergonha (em mim)!

Sinceramente não sei de quem é a culpa por isto tudo e por onde se deve começar a endireitar as “linhas” porque isto a continuar assim será um grave perigo multidisciplinar para a região e/ou continente inteiro, lamentavelmente.

E cimeiras e outros tipos de reuniões se multiplicam, em nome da irmandade e integração regional…

Uma ova!

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã,  edição de 05 de Janeiro 2018, na rubrica semanal TIKU 15!.

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