Terceira idade não é o fim da vida – LEANDRO PAUL

A maioria das pessoas com quem convivo tem uma idade semelhante à minha: acima dos 60 anos. Somos aqueles que já ultrapassámos dois terços do tempo que, biologicamente, nos é concedido neste mundo. Contudo, ao contrário de muitos, não vejo a terceira idade como o fim da vida, mas como uma nova oportunidade de crescimento, aprendizagem e realização.

Quando era jovem, enquanto muitos dos meus contemporâneos aproveitaram este tempo para estudar com calma ou viver romances descomprometidos, eu lancei-me cedo na vida adulta. Aos 18 anos, já trabalhava como jornalista; aos 20 e poucos, já era casado e pai. Fui precipitado? Talvez. Mas era o espírito da época. Nos anos da revolução, havia uma urgência em ser adulto, em contribuir para a construção de um país independente. Em 1975, por exemplo, quando tinha apenas 14 anos, já dava, como voluntário, aulas de alfabetização a adultos à noite, enquanto frequentava o ensino secundário durante o dia. Era o fervor revolucionário que nos movia. Vivíamos com o propósito de edificar uma nova pátria, muitas vezes sem esperar nada em troca.

Apesar de não ter completado os estudos superiores nessa época da juventude, a carreira na comunicação social foi generosa comigo. Primeiro como jornalista, depois como assessor de imprensa [actividade que continuo a desenvolver até à data], acumulei experiências, escrevi livros e fiz formações complementares que me deram uma sólida base profissional. Ainda assim, havia algo em mim que ansiava por mais. O “bichinho” dos estudos nunca desapareceu.

Leandro Paul (o autor deste artigo)

Foi aos 50 anos, enquanto muitos da minha geração se preparavam para a reforma, que decidi reescrever a minha história. Matriculei-me no curso de Ciências Jurídicas na Universidade Politécnica, empenhei-me como nunca e, quatro anos depois, conclui a licenciatura com uma média de 18 valores, sendo reconhecido como o melhor estudante do ano.

Mas, com o diploma nas mãos, surgiu a questão: o que fazer a seguir? Competir com jovens juristas na Ordem dos Advogados? Não fazia sentido. Em vez disso, optei por partilhar os conhecimentos acumulados [e que são muitos], tornando-me professor de disciplinas como História do Direito, Sociologia do Direito e Filosofia do Direito, áreas teóricas muitas vezes negligenciadas no mundo jurídico. A pandemia de Covid-19 trouxe outro desafio: um mestrado online em Direito Empresarial, concluído aos 60 anos, novamente com distinção.

E, recentemente, em vez de abrandar aceitei mais um desafio. Hoje, com quase 64 anos de idade, estou a realizar um doutoramento em Estudos de Desenvolvimento, com uma tese sobre Relações Públicas [Assessoria de Imprensa] — a área onde concentrei grande parte da minha carreira nos últimos 25 anos.

Enquanto muitos dos meus contemporâneos passam os dias a cuidar dos netos, a gastar a reforma em bares ou em comprimidos para aguentar nas “casas 2”, eu encontro energia nos livros, nas pesquisas e no ensino. É gratificante inspirar novas gerações de juristas e, ainda, motivar colegas da minha idade a retomar os estudos. Quando me dizem: “Se o Leandro conseguiu, porque não eu?”, Sei que fiz a escolha certa.

Esta jornada académica e profissional não é apenas um projecto de vida — é o que me mantém vivo, motivado e com objectivos claros. Tenho plena consciência de que o tempo que me resta é limitado, mas escolhi vivê-lo de forma intensa e significativa. Porque, na verdade, a terceira idade não é o fim da vida, mas uma oportunidade de começar algo novo. Tenho também uma certeza: não vou morrer tão cedo.

LEANDRO PAUL

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