Tudo resolvido?

Tudo resolvido? – A começar, rogo para não ser mal interpretado por aqueles ilustres que acreditam que apenas as suas ideias são válidas.

Devo começar por deixar claro que não conheci Nyongo, o Mariano, muito menos tenho ou tive relação alguma com o homem que se diz que foi “abatido” esta segunda-feira (11Out2021) algures nas matas de Sofala, aliás, na mesma região onde, a par da província de Manica e, esporadicamente, da de Tete, ele e seus seguidores mataram brutalmente seres humanos, pilharam e destruíram bens públicos e privados, actos condenáveis, em toda a linha.

Urna com restos mortais de Gura Ukama, morto juntamente com Nhongo

Alguns rapidamente exultaram, abertamente, e outros de forma dissimulada, quando tomaram conhecimento da morte deste moçambicano que violentamente se opôs aos termos do Acordo de Paz Definitiva assinado aos 06 de Agosto de 2019 entre Filipe Nyusi, Presidente da República de Moçambique, e Ossufo Momade, líder da RENAMO.

Sou definitivamente contrário ao recurso à violência para a resolução de qualquer que seja a desinteligência e obviamente me repugna qualquer eliminação física de quem quer que seja e sempre me interrogo sobre se os que ordenam ou tiram a vida a um ser humano conseguem, daí em diante, desfrutar de um sono tranquilo.

Impressionante foi notar, nas entrelinhas de um comunicado público, uma aprovação/compreensão deste fatídico deslinde, de quem se devia sentir envergonhado pelo fracasso da sua missão de presidir à busca de uma solução negociada entre irmãos desavindos.

Com enormes probabilidades de estar aqui a verter besteiras, mas a avaliar pelos relatos e imagens disponíveis, me parece que Nyongo não andaria no meio de um expressivo número de apoiantes armados aquando do “combate de encontro”.  Mesmo não sendo perito militar, acredito que deviam existir possibilidades de neutralizá-lo vivo e arrastá-lo à barra da Justiça para ser responsabilizado pelos actos de que é(ra) suspeito, ao invés de o “abater” e fazer o mesmo com o seu acompanhante.

As mortes extra-judiciais, mesmo de bandidos sanguinários assumidos, deviam merecer repúdio de todos, porque ao optar por elas ou apoiá-las, quem assim procede desce ao nível de selvajaria destes e seus apaniguados.

Se bem que a morte de Nyongo pode desmoralizar os seus seguidores armados e por algum tempo e, talvez, definitivamente, devolver algum aparente sossego na região Centro de Moçambique, já não será linear acreditar que com ele tenham, também, morrido as preocupações da maioria dos moçambicanos, razão para as sucessivas rebeliões que, julgo, aqui e acolá eclodem, nesta pátria amada, volta e meia.

“Pode não ser hoje, nem amanhã, mas podem aparecer outros que procurem defender as suas posições, o que acaba sendo o prolongamento do conflito”, comentou, por exemplo, Raul Domingos, conselheiro de Estado.

Aliás, Paul Kagamè, presidente do Ruanda e que ajuda Moçambique a debelar a violência armada extrema no Norte da província setentrional moçambicana de Cabo Delgado e há quem diga que deu uma “mãozinha” para a neutralização de Nyongo, aponta “falhas de governação” como uma das causas da insegurança que, nalgumas vezes, resvala para formas perigosas, a exemplo do terrorismo (mediaFax N° 7427).

“Precisamos de erradicar as causas do terrorismo e, se olhar para o cenário, vai observar que as questões do desemprego da juventude existem e devem ser abordadas”, opiniao do chefe da missão militar da África Austral em Moçambique (SAMIM), Mpho Molomo, durante uma conferencia de imprensa esta quinta’feira (14Out2021) em Maputo.

Sabe-se que muitos dos que aderiram ao processo de Desarmamento, Desmobilizacao e Reintegracao (DDR) não estarao a receber regularmente os prometidos subsídios, porcoes de terra e materiais para a construcao das suas habitacoes, alguns se queixam de “perseguicoes”. Estarao esses concidadaos em paz?

Precisamos de consolidar a cultura de inclusão, tolerância e lisura nos processos eleitorais – a meu ver principais geradores de descontentes – ao invés de nos contentar com dribles políticos abates de seres humanos ou outros resultados imediatos de actos musculados, como se vivêssemos na dinastia do Hamurabi.

É necessário que haja um permanente diálogo, sério e genuíno, ao invés de entretenimentos ou aldrabices, por forma a salvar Moçambique das constantes e cíclicas convulsões político-militares.

A MINTHIRU IVULA VULA KUTLHULA MARITO! Os actos valem mais que as palavras!  Digo/escrevo isto porque que ainda creio que, como em anteriores desafios, Moçambique triunfará e permanecerá, eternamente. (Tudo resolvido?)

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo intitulado “Tudo resolvido com a morte do Nyongo?”  foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 15 de Outubro de 2021, na rubrica de opinião denominado TIKU 15

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