TVM ameaçada em Alexandra
TVM – Televisão de Moçambique (TVM) teve uma equipa de reportagem sua ameaçada, no sábado da semana passada, em plena actividade no problemático bairro de Alexandra, arredores de Joanesburgo, mas não houve registo de feridos ou danos materiais.
Ao que o Correio da manhã apurou, os profissionais de comunicação social da TVM estavam no terreno para se inteirar do quotidiano dos moçambicanos naquele que é dos mais pobres e populosos bairros de Joanesburgo, ironicamente paredes-meias com o mais sumptuoso (bairro) de toda a África: Sandton.
Alexandra é um bairro grande dividido em zonas dominadas por grupos de delinquentes violentos, sendo que cada grupo tenta impor a sua autoridade sobre os residentes da sua área de influência, sendo por isso extremamente arriscado para jornalistas (nacionais e/ou estrangeiros) entrarem ostensivamente com câmaras sem proteção policial.
Há sensivelmente um mês um grupo de criminosos atacou em Alexandra uma equipa de reportagem da televisão nacional sul-africana, a SABC, despojando os profissionais de media dos seus pertencentes, incluindo a própria câmara de serviço e telefones móveis pessoais.
Um dos motivos que atraiu os profissionais da TVM à Alexandra, bairro habitado por aproximadamente 200 pessoas, foi a destruição de cerca de 80 casas pela edilidade, incluindo de moçambicanos, construídas em minúsculas porções de terra vendidas ilegalmente por sul-africanos desonestos a preços que variam entre 3.500 randes e quatro mil randes.
A decisão camarária precipitou algumas dezenas de moçambicanos a passar noites deste rigoroso inverno da África do Sul ao relento e em constante fuga, numa região em que ser estrangeiro é, amiúde, meio passo dado para correr perigo de vida, dados os elevados índices de violência associada à xenofobia.
Pobreza aguda
O Correio da manhã soube que as casas de material convencional foram demolidas há uma semana a mando do Conselho Municipal de Joanesburgo, desde 2016 sob gestão da Aliança Democrática (DA), maior partido de oposição na África do Sul.
A maioria dos habitantes de Alexandra vive em condições precárias, com falta de água canalizada, sem saneamento do meio ou casas de banho nem energia eléctrica e partilham latrinas móveis colectivas.
Alguns moçambicanos indocumentados e sem direito de residir na África do Sul residentes em “Alex” sobrevivem na base de pequenos biscates e negócios, com destaque para trabalhos de beleza e venda de diversos produtos e verduras, algumas delas traficadas de Moçambique.
Resolvem o problema de habitação arrendando quartos ou partilhando pequenos apartamentos construídos em zonas impróprias para habitação, quase na mesma zona onde há dois anos houve mortes e destruições causadas por deslizamento de terras provocado por intensas chuvas.
O município de Joanesburgo decidiu proibir a construção de novas habitações para evitar novas tragédias, mas não forneceu terrenos alternativos para habitação.
A demolição das casas ilegais provocou uma mistura de reacções umas a favor e outras contra, acusando as autoridades municipais de falta de sensibilidade humana no meio da pobreza e da falta de terra para a maioria negra na África do Sul.
Mesmo assim, alguns residentes continuam a construir casas para viver ou arrendar o que irritou as autoridades que reagiram com mão dura, demolindo 80 casas.
Milagrosa Paulo Novela, residente em Alexandra há sensivelmente 16 anos disse ao jornal Correio da manhã que as pessoas construíram numa zona imprópria por falta de terra própria para habitação.
O presidente do município promete reconstruir as casas, mas só para residentes locais ou com documentos legais de residência na África do Sul, o que à partida deixa muitos moçambicanos excluídos de ressarcimento.
A criminalidade, violência, consumo de droga e de bebidas alcoólicas e xenofobia contra imigrantes africanos são as principais divisas Alexandra, por onde passam diariamente centenas de endinheirados que usam a autoestrada entre as principais cidades de Gauteng (Joanesburgo e Pretória).
Importa referir que foi em Alexandra que em 2015 foi brutalmente assassinado o moçambicano Emmanuel Sithole, acto perpetrado por jovens sul-africanos que provocaram a briga levando sem pagar um maço de cigarros do jovem natural de Moçambique.
Salvador Alves Cossa, líder da comunidade moçambicana em Alexandra, não escapa nem esconde o seu medo constante apesar de no bairro há sensivelmente 23 anos.
Redacção