Um país à espera da boleia
Boleia – Na minha aldeia, havia falta de transporte nos meus tempos de adolescente. Falo de transporte público. Aliás, nem um carro ou mesmo um burro de quatro patas para o transporte público.
Nas estradas com muito areal circulavam poucos carros e tractores de cantineiros. Fazíamos longas distâncias a pé e quando aparecia algum carro ou tractor pedíamos boleia e era mesmo de borla, porque não tínhamos dinheiro para pagar.
Depois de uma dezena de anos alguns madjonedjones – mineiros – adquiriram carrinhas.
Lembro-me de Luís David e de Romão e outros poucos. Conheciam os meus pais e irmãos, alguns dos quais também trabalhadores nas minas de ouro e de carvão.
Aliás, um dos meus irmãos comprou o seu primeiro carro de caixa aberta em 1985. Era um Toyota a gasolina.
Quando estivesse de férias, o mano costumava dar boleia de borla a algumas pessoas que apanhava quando em viagem para tratar assuntos pessoais. Era a cultura da minha aldeia – solidariedade de irmandade.
No entanto, mais uma dezena de anos depois, a boleia gratuita foi abolida sem qualquer despacho escrito por alguma autoridade local, distrital ou provincial. Hoje já não há boleia gratuita para ninguém, a menos que seja um familiar mais próximo. Na aldeia, todos sabem que boleia custa dinheiro.
Entretanto, um senhor país de cerca de 43 anos de idade com mais de 30 milhões de filhos está à espera de boleia gratuita dos seus vizinhos para chegar ao escritório de decisões corajosas localizado a escassos zero quilómetros da verdade.
Um especialista em relações internacionais disse-me há dias que o país apanhou a boleia inesperada da queda do muro de Berlim para abandonar a tentativa de construir socialismo de tipo marxista-leninista e do fim do regime minoritário racista do apartheid para acabar com o longo conflito armado que matava centenas de milhares de pessoas inocentes e destruía escolas, hospitais, estradas e muitas outras infra-estruturas socioeconómicas.
Segundo o especialista, o seu país quer ver o sucesso das mudanças corajosas em Angola, Zimbabwe e na África do Sul para lidar corajosamente com as pessoas bem conhecidas que dilapidaram os recursos do estado em nome da segurança nacional. Em Angola, o presidente JLo fez uma limpeza da pequenada de Zé Du da liderança das instituições públicas.
No Zimbabwe, termina no final deste mês o prazo de 90 dias de amnistia concedida pelo presidente Emerson Mnangagwa àqueles que roubaram o dinheiro do Estado e colocaram-no no estrangeiro. Findo o prazo, Mnangagwa promete revelar publicamente os nomes das pessoas e das empresas pilhadoras dos recursos públicos zimbabueanos e serão levados à barra da justiça.
Na África do Sul, os dias de J G Zuma estão contados. Até Maio de 2019 deverá sair do poder e fora aguardam-lhe 783 acusações de corrupção.
A boleia pode ser cara para o país à espera dos vizinhos.
A ver vamos.
THANGANI WA TIYANI
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 07 de Fevereiro 2018 na rubrica semanal Rancor do Pobre
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