RSA – Xenofobia

Tal como referimos na edição desta terça-feira (Cm N.º 5006, pág. 4), o ambiente está tenso na África do Sul e os emigrantes andam receosos por causa dos grupos dinamizadores de pensamentos xenófobos. Esta terça-feira houve terríveis tumultos em algumas regiões de Joanesburgo que atingiram bens de emigrantes. Até agora não há relatos de vítimas ou estragos afectando moçambicanos por estes actos de xenofobia.

Casas, carros e estabelecimentos comerciais de emigrantes africanos foram queimados em Rosenttenville, sul de Joanesburgo, numa alegada guerra contra suspeitos traficantes de droga e promotores de prostituição.

O Presidente da cidade de Joanesburgo, Herman Mashaba, defende a deportação de todos os emigrantes ilegais para os seus países de origem alegando que são promotores da criminalidade na cidade de ouro.

O ambiente está muito tenso, mas calmo em Rosettenville. A Polícia reforçou unidades de patrulha para evitar o pior, mas foi tarde para salvar os bens do emigrante nigeriano Obian Kenneth.

Um grupo de residentes locais queimou a casa e o carro de Obian, suspeito de ser traficante de drogas e de usar a sua residência como bordel.

O jovem emigrante diz que não sabe qual é o problema de fundo entre sul-africanos e nigerianos, porque não é traficante de drogas e nem promotor de prostituição na sua casa. Apenas vende roupa usada.

Não lido com drogas. Esse não é o meu negócio”, disse Obian visivelmente abalado.

A escassas centenas de metros da residência arrendada de Obian vivem outros cinco emigrantes nigerianos, cuja casa foi igualmente queimada por residentes locais.

Para o chefe do grupo,que apenas se identificou como Kenneth, a destruição dos seus bens a fogo posto é uma clara manifestação de xenofobia contra emigrantes africanos, sobretudo nigerianos.

Steve(a segunda vítima nigeriana) disse que o fogo destruiu todos os seus bens, incluindo roupa e documentos de identidade.

No entanto, nem Steve nemObianainda não apresentaram queixas à Polícia, alegando que “os agentes da corporação são coniventes”.

O bairro de Rosettenville já foi modelo de melhor organização e segurança, mas agora está ficando destruído com a proliferação de consumidores de droga e praticantes de prostituição, afectando o valor de propriedades como casas e estabelecimentos comerciais.

Um emigrante moçambicano residente no mesmo bairro considera que a população local está avingar-se contra a venda de droga e prostituição.

Segundo MussaUssene, natural da Maganja da Costa, na Zambézia, os locais organizaram-se em grupo para ajudarem a Polícia no combate à droga, porque os seus filhos estão a ser contaminados.

Dados oficiais indicam que o consumo de droga na África do Sul é duas vezes superior ao consumo considerado normal a nível mundial.

Pelo menos 15 sul-africanos em cada 100 habitantes têm problemas de consumo de droga, custando ao país 20 mil milhões de randes (cerca de cem mil milhões de meticais) por ano.

Thangani Wa Tiyani, correspondente na África do Sul

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