Zuma admite sair
O Presidente Jacob Zuma admitiu pela primeira vez no bairro do Soweto, arredores da cidade de Joanesburgo, que “está pronto a deixar o poder” se for solicitado a fazê-lo pelo seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC).
O chefe do Estado sul-africano falava na noite desta quarta-feira nas celebrações dos 75 anos do seu aniversário natalício.
Membros seniores do ANC e dos aliados no governo têm estado a manifestar publicamente o seu descontentamento com a liderança de Zuma devido a vários escândalos de governação caracterizados por corrupção.
Milhares de membros da sociedade civil e de partidos políticos foram quarta-feira ao jardim da presidência sul-africana, em Pretória, exigir a destituição do Presidente Jacob Zuma do poder.
A Polícia vedou lhes acesso ao gabinete do Presidente com arame farpado.
Normalmente os passos da Presidência da República da África do Sul em Pretória (Union Building ou Edifício da União) são de acesso livre e diariamente visitados por centenas e/ou milhares de turistas nacionais e estrangeiros.
Os organizadores discursaram no jardim presidencial acusando Jacob Zumade destruir a vida do povo e a África do Sul.
Os membros e simpatizantes de nove partidos políticos e de alguns grupos da sociedade civil marcharam em massa para Pretória, cerca de uma semana depois de outra manifestação contra Jacob Zuma.
Dizem que a corrupção, o nepotismo e a má administração, alegadamente promovidos por Zuma e companhia estão a destruir o país.
A economia sul-africana foi recentemente colocada no nível de” lixo” por duas agencias internacionais de rating, sendo a primeira vez desde o fim do apartheid em 1994 que a economia mais industrializada de África é considerada “lixo” para investimentos.
Nos últimos 15 meses, África do Sul teve quatro ministros das Finanças no governo com cerca de 75 ministros, o maior na história da África do Sul.
Há cerca de duas semanas, Zuma fez remodelação governamental, que incluiu a exoneração do Ministro das Finanças, Pravin Gordhan.
Alguns membros seniores do ANC reconhecem que a vida está complicada, com a desvalorização da economia e sinal de incerteza política e institucional dado pelas agencias de rating.
Os adversários de Zuma e seus apoiantes dizem que basta.
O Presidente Jacob Zuma considera que as marchas que decorrem desde semana passada exigindo a sua destituição do poder demostram a prevalência activa do racismo na África do Sul. Mas os participantes nas manifestações – negros e brancos – desmentem.
Não há racismo na África do Sul. Negros, brancos e mestiços estamos aqui hoje para apoiar a destituição na Union Buildings.
“Zuma deve cair” , gritava esta quarta-feira um jovem interpelado pelo Correio da manhã no meio de muitos manifestantes vestidos a vermelho, cor predilecta do partido dos Combatentes pela Liberdade Económica (EFF) fundado por Julius Malema.
Os jovens acrescentaram que não se pode confundir o racismo com a pobreza exacerbada pelo roubo dos recursos pela elite governamental.
Vozes discordantes
Para os jovens manifestantes, Zuma pode resistir à pressão para abandonar o poder, mas o seu partido ANC vai pagar caro nas próximas eleições gerais como aconteceu nas recentes eleições municipais em que o partido perdeu as cidades estratégicas de Pretoria, JHB e Port Elizabeth.
Entretanto, nem todos os sul-africanos concordam. Uns exigem a demissão de Zuma e outros defendem a sua manutenção no poder até terminar o seu segundo e último mandato que expira em 2019, porque consideram que Jacob Zuma tem feito muito trabalho em prol dos negros e brancos na África do Sul.
Os partidos da oposição prometem continuar com acções de protestos contra Zuma nas ruas e no Parlamento no qual decorre um processo de tramitação de moção de censura.
Mas Jacob Zuma, já sobreviveu a quatro moções com o apoio do ANC.
Agora a oposição quer votação secreta, porque acredita que alguns membros do ANC vão apoiar a destituição do seu líder que na quarta-feira celebrou 75 anos de vida, dos quais oito no poder marcados por escândalos e protestos no parlamento e nas ruas. Quatro deputados do ANC renunciaram os seus mandatos desde semana passada. África do Sul está a ferver política e economicamente.
A situação pode afectar os países vizinhos, como Moçambique que dependem largamente de importações sul-africanas.
Thangani wa Tiyani, correspondente na África do Sul