A viagem que dura pouco!

A viagem – A babilónia que se assiste na travessia Inhambane/Maxixe parece estar perto do fim.

O tempo passa e as coisas mudam, os barcos à vela que asseguravam o transporte de pessoas e bens já caíram em desuso.

Quem não se lembra do velho Mangoba que tinha as águas da baía a sua machamba. Aliás mesmo depois de ingerir alguns copos de sura conseguia assegurar o remo e guiar o barco à vela para alcançar uma e outra margem.

Os mais antigos podem testemunhar isso, mas com o tempo apenas ficou o nome do craque Mangoba.

Lembram-se da canção de Sérgio Pato- intitulado “marinheiro” que retrata um arais que carrega uma pessoa até ao barco para seguir a viagem- dhelo hitagu khusa tsungu – que traduzido para português significa vem ao colo patrão para seguir a bordo.

Bom, o tempo passou, e chegou a era das embarcações com motor fora de bordo que vieram pôr em causa o negócio do velho Mangoba e tantos outros que saíram cabelo branco a garantir a travessia na baía de Inhambane.

Se calhar nunca imaginavam que a ciência pudesse evoluir até ao ponto de existir um barco que não necessita de tanta força humana para se locomover.

Os marinheiros que fazem o transporte de pessoas e bens usando as pequenas embarcações parece que também poderão ir ao olho da rua se não forem resilientes.

É que já há pelo menos três grandes barcos, duas sob gestão da empresa Transmarítima e uma pertencente a um privado.

Estas embarcações, além do conforto levam pouco tempo para alcançar uma e outra margem da baía o que faz com que sejam preferidas pelos passageiros, que o diga o meu amigo Phindelane, um jovem que nasceu e cresceu na região de Vavate, no interior do Distrito de Homoíne.

O jovem cruzou a baía pela primeira vez na companhia do seu primo que desenrasca a vida na cidade de Inhambane- Quis o destino que apanhasse o recém reabilitado barco denominado Baía de Inhambane, onde o luxo encanta a todos que nele entram para viajar.

O interior desta embarcação deixou o meu amigo Phindelane emocionado, de entre várias coisas boas, a que mais mexeu o coração foi o televisor plasma onde eram exibidos os vídeo-clipes de alguns músicos nacionais e estrangeiros.

Como nunca havia visto coisa igual, a viagem da Maxixe a Inhambane tornou-se curta de tal modo que quando o barco atraca na ponte cais e os passageiros convidados a sair, Phindelane permanecia deslumbrado com a música intitulada “Mamã” do jovem artista Ivo Mahel. Todos abandonaram o barco, mas o meu amigo Phindelane permanecia e só saiu quando o homem que conduzia o Baía de Inhambane desligou o aparelho.

Este acto não agradou o jovem que dizia em língua citswa que se fala lá nas bandas de Homoíne- “gi tsiki giba a disco lego”’ que traduzido para português quer dizer deixa o disco tocar essa música, mas o marinheiro não deu ouvidos, para a infelicidade do meu amigo Phindelane.

Certamente que ele e tantos outros passageiros vão preferir viajar do barco Baía de Inhambane e aí fica o claro sinal de que os proprietários das pequenas embarcações com motor fora de bordo devem melhorar as condições dos seus meios para atraírem passageiros.

Quiçá é também altura de pensar no futuro já que o tempo passa e as coisas mudam!

ARMANDO COMÉ

Este artigo foi publicado intitulado “A viagem que dura pouco tempo!” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 13 de Maio de 2022, na rubrica OPINIÃO.

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