Crianças são o grosso dos que fugiram de Murrameia
Crianças são o grosso dos que fugiram da comunidade de Murrameia, na sequência de um brutal ataque de grupos armados desencadeado no sábado naquele povoado do Norte de Moçambique.
Da incursão resultou, entre outros danos, na morte do chefe da aldeia e a sua mulher, de acordo com diferentes fontes da comunidade de Murrameia.
O ataque provocou a fuga de quase mil pessoas, a maioria crianças, segundo dados hoje publicados pela Organização Internacional das Migrações (OIM).
A aldeia pertence ao posto administrativo de Hucula, no distrito de Namuno, adjacente ao distrito de Montepuez onde há 10 dias um ataque armado a uma mina de rubis obrigou à suspensão de actividades e à evacuação de trabalhadores.
Ambos os distritos estão no extremo Sudoeste de Cabo Delgado, que até Setembro esteve livre de terroristas e que está mais próximo das províncias vizinhas (Nampula e Niassa) do que de Pemba, capital provincial, que fica a cerca de 400 quilómetros.
“Por volta das 15:00 fomos surpreendidos por um grupo que pensamos tratar-se de terroristas, pela maneira de agir”, descreveu um residente.
O grupo decapitou o chefe da aldeia e a esposa, incendiou a escola primária e um tractor de uma associação agrícola local, detalhou, o que fez com que a população fugisse para a sede de distrito.
“Abandonámos a aldeia porque eles são violentos. Mataram o nosso chefe de aldeia e não sabemos o que nos espera”, acrescentou a mesma fonte.
Outra fonte local referiu que está desaparecida, pelo menos, uma criança que se afastou dos pais durante o ataque.
A população das aldeias em redor também começou a fugir para a sede de distrito.
A OIM emitiu um alerta do mecanismo de registo de deslocados em Cabo Delgado, segundo o qual 958 pessoas saíram no sábado e domingo das zonas de Hucula e Machoca para a sede distrital.
“O medo e ataques confirmados por grupos armados estiveram na origem da movimentação”, lê-se no alerta, segundo o qual há 100 deslocados vulneráveis, entre grávidas, idosos e menores separados da família.
Do total de residentes em fuga, 60% são crianças, acrescenta.
A província de Cabo Delgado tem sido aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
Em cinco anos, o conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o ACNUR, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED. (Crianças são o grosso)
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