Ramaphosa pode resignar, “com prazer”
O actual líder do Congresso Nacional Africano (ANC) e chefe de Estado da África do Sul, Matamela Cyril Ramaphosa, admite a possibilidade de resignar, “com prazer”, destes cargos, caso se conclua que carrega culpas em torno do “Farmgate”, que remonta de 2020.
Esta possibilidade foi avançada por Vincent Magwenya, porta-voz do presidente Ramaphosa, quando, este domingo (13Nov2022), interagia com representantes da media em Pretória.
O encontro entre Magwenya e os jornalistas era, basicamente, para abordar a agenda semanal do chefe de Estado sul-africano.
No entanto, os jornalistas acabaram arrastando Magwenya para se concentrar no “Farmgate”, assunto que está a animar as conversas na África do Sul e tendo em conta o que circula nos bastidores, de que Ramaphosa teria desabafado, pela primeira vez, ao Comité Executivo Nacional (NEC, sigla em inglês) do ANC, sobre o caso.
Vincent Magwenya começou por dizer que não estava habilitado a falar do que Ramaphosa teria comentado no Comité Executivo Nacional do ANC, por não fazer parte deste órgão, nem investido de poderes do partido governamental sul-africano para o efeito.
O porta-voz do presidente da África do Sul começou por recordar que Ramaphosa ainda goza da presunção de inocência, “constitucionalmente consagrada”, e que “há várias investigações em curso” sobre o caso.
Acrescentou que é preciso dar tempo para que essas instituições conduzam os seus trabalhos e só depois a Presidência vai se se pronunciar, frisando, ainda, que “Ramaphosa está a cooperar com as instituições e vai continuar a fazê-lo até ao fim das investigações”.
Os desabafos de Ramaphosa
Depois de várias críticas, algumas em surdina e outros publicamente, incluindo do antigo presidente Thabo Mbeki, Cyril Ramaphosa, finalmente, decidiu “abrir-se” perante os “camaradas” em sede do NEC.
Apesar de oficialmente nada se saber sobre as “confissões” de Ramaphosa, consta, nos bastidores, que o atual líder do ANC e chefe de Estado sul-africano negou qualquer responsabilidade no caso do roubo de dinheiro, na sua fazenda de Phala Phala, junto à fronteira com Moçambique.
Em meios restritos do NEC consta que Ramaphosa terá dito que o valor roubado é de 580 mil dólares norte-americanos (e não quatro milhões de dólares norte-americanos), conforme a queixa apresentada pelo antigo boss da secreta sul-africana, Arthur Fraser.
Consta ainda que Ramaphosa terá acrescentado que o dinheiro “era de uma transação legítima” com um empresário de nome Hazum Mustafa, que o terá pago na compra de animais.
Indo na linha do que está a ser a sua defesa neste caso, Ramaphosa disse, aos “camaradas”, que não assume a culpa pelo facto de a pessoa que deveria abrir um processo criminal, sobre o roubo, não o ter feito.
Ou seja, tudo leva a crer que a culpa vai ser mesmo empurrada para o chefe da Unidade de Proteção Presidencial, Major General Wally Rhoode, também visado pelo antigo responsável dos serviços secretos, na queixa crime aberta em Junho passado.
Aparentemente, os “camaradas” mostraram-se solidários para com o seu presidente, mas não deixaram de dizer que o “Farmagate” beliscou a imagem do Congresso Nacional Africano e seu actual líder.
Este mês de Novembro, o Painel Independente que investiga o caso deverá divulgar o seu relatório, para se saber se Ramaphosa terá ou não violando a lei.
No seio do ANC há os que defendem que Ramaphosa deveria abandonar o cargo já e até não concorrer nas eleições de Dezembro próximo, quando se realizar a conferência nacional do partido.
RAULINA TAIMO, correspondente na África do Sul