Algo cronicável
Andava o meu amigo pelas ruas. Zangado com a frustração e triste com a felicidade. Não mais sabia os caminhos da inspiração.
O meu amigo é jornalista, a desgraça faz o seu salário. Mas o meu amigo também vive na desgraça, conhece-a tão bem que era capaz de escrever sobre ela até de olhos fechados. O meu amigo não é o retrato da desgraça, mas dela faz fotografia.
Mas, hoje, a desgraça cansou-se dele e não mais quer que ele tire vantagem dela; o meu amigo não consegue escrever. Anda pelas ruas do bairro da pobreza que se localiza na zona da ilusão, bem ao lado do conformismo.
Fuma cigarros enquanto mantém os olhos esbugalhados virados para a estrada à procura de “algo cronicável”, faz chamadas e inventa conversas. O meu amigo procura desgraças maiores do que as suas, mas, simplesmente, não as encontra.
Dos mendigos ninguém mais fala. Ninguém mais nota a sua presença.
Os ladrões não mais são desgraçados, vivem em palácios e pertencem à nobreza, e nobreza não vende jornal.
O meu amigo está à beira da frustração, senta num bar, bem ali na esquina dos descontentes, pede uma à nossa maneira e bebe dum trago, tão rápido que sequer sente o gosto. Olha para os transeuntes e percebe como já não consegue ver as suas diferenças, todos portadores de más notícias, mas sempre mergulhados numa maré de esperança e de conformismos… Devem ser adeptos do Sporting – pensou…
Depois de muito caminhar e de muito pensar… o meu amigo decidiu voltar para casa, mas diferente de quando saiu, já sabia sobre o que escrever e assim que se sentou em frente ao computador; assim escreveu:
“A crónica sobre nada”
STÉLVIO MARTINS – Um humilde silencista
Este artigo foi intitulado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 14 de Julho de 2023, na rubrica de opinião denominado OPINIÃO.
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