Dura realidade

Havia nas redondezas da cidade um rapaz que dava duro para a sua sobrevivência. Entregou-se à educação para vencer algumas adversidades da vida.

Levou anos para ganhar espaço no mercado de emprego. Não tendo outra saída, decidiu abraçar o ramo agrícola junto da sua avó para melhor potenciar a terra produzindo produtos para o seu sustento e comercialização.

A parcela que a sua amada avó lhe teria dado soube usar de acordo com as suas necessidades. Culimava e regava a terra diariamente, adubando-a para melhor fortificar a produção.

Triste é que sofria “roubos constantes daqueles que se envergonhavam de realizar actividades iguais, afinal cultivar requer prática para o seu domínio e noção da época para definir o que plantar e colher com facilidade”.

Cansado de sofrer e já amargurado, o rapaz lamentou para a sua avó que andava todo angustiado e com total desespero. Mas esta não percebeu, “a priori”, o juízo do seu neto, tendo respondido antes de saber a razão do clamor do rapaz: não viu nada filho, é cedo para desistir.

“Mas dou-te muita força, não te canses, olha para a minha idade e posição, agora imagina tu, todo jovem, com força para tudo. Deverias, sim, ter mais vontade de trabalhar que o meu desejo é colher esta época e deixar tudo sob o teu controlo”.

O rapaz não falou mais nada.  Reflectiu nas palavras da sua avó e preferiu manter-se calado, mas furioso com o que estava a acontecer na sua machamba.

Certo dia, logo pela aurora, foi com a avozinha ao campo agrícola, empunhando uma  enxada numa mão, na outra segurava um saco no qual colocariam alguns produtos a colher. Infelizmente, foram surpreendidos com quem primeiro tivera chegado e colheu o que não o pertencia.

Peço água…tenho sede – disse a avó ao rapaz, com o olhar trémulo e desesperado. Este entregou a pobre garrafa para que a velha tomasse do líquido pedido.

– Tens noção disto? – pergunta ela ao neto.

Não, vovó – respondeu todo desesperado…, quando falei noutro dia que andava cansado era mesmo por este acto, não pela minha estrutura física, mas percebi que não me havia entendido por isso pautei pelo silêncio.

Rancorosos ficaram e saíram sem nenhum produto que pensavam colher, mas a uma atitude daquelas certamente que nada passaria sem ajustes!

De regresso a casa, o silêncio fazia-se sentir entre ambos. Cada um pensava em quem teria feito aquilo. Estava claro não ter sido para o consumo, mas sim para venda. De regresso à casa foram vendo legumes, vegetais e produtos na berma da estrada e das ruas com pessoas que não entendem nada sobre o cultivo. Revoltado fica o rapaz que não lhe faltou coragem de se aproximar destes. Com lágrimas no rosto, disse a avó: segura-te, meu neto, as coisas não se resolvem à força, tal como fizeram sem sabermos quem foi, também “sofreram sem saber a razão”.

No dia seguinte, decidiu submeter-se à superstição, junto dos “búzios”, comandado pelo “espírito mau”. Enviou-os a quem mal fizera, sem o conhecimento do neto. Este vê o seu vizinho tirando capim e arrancando folhas pelas ruas, repetitivamente… correu à casa sem mais delongas e disse: avó, vovó, não imagina o que vi, o filho da casa ao lado com indícios de loucura, estava colhendo sujeira pelas ruas, disse o rapaz, que a sua avó acatou a informação, tendo respondido que “o sol nasce para todos e brilha de forma especial para quem olha com maior satisfação e cada um colhe o que planta, meu neto. Continua com o espírito de honestidade  para o teu bem-estar e simplicidade na vida, ainda o quer ver bem!”

O rapaz percebeu o que a avó quis dizer, mas vivia como se nada soubesse, continuando a tapar o sol com a peneira para não criar desconfiança no seio dos que os rodeavam.

Precisamos perceber que nem sempre as coisas saem como planejamos, é sempre bom gastar energia dedicando-se ao cultivo do que se formou, evitando o rumo do adolescente que terminou a vida enlouquecido pelos maus actos que carregava.

Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante.

CÉSAR NHALIGINGA

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 03 de Outubro de 2023, na rubrica de opinião.

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