Governação de Obama
O segundo mandato de Barack Obama como presidente dos EUA está a chegar ao fim. Mas embora Obama continue a ter boa imprensão (sobretudo fora dos EUA), os seus oito anos na Casa Branca não foram feitos apenas de sucessos.
Mas vamos por partes. Em primeiro lugar, os aspectos positivos: Obama deu passos importantes nos direitos humanos, combateu as diferentes formas de discriminação e criou um sistema de saúde acessível a todos os americanos. E, na frente económica, presidiu à recuperação após a grande recessão, com o apoio de uma Reserva Federal que fez uso de toda a artilharia disponível para injectar dinheiro na economia.
Na frente externa, o balanço da presidência Obama será menos favorável. A sua liderança carismática reconciliou o resto do mundo com os EUA, mas a posição de Washington está no nível mais fraco desde Jimmy Carter.
Em primeiro lugar, porque Obama foi incapaz de implementar uma estratégia credível, de longo prazo, que desse confiança aos aliados e mantivesse os inimigos sob controlo. Com os seus constantes ziguezagues e uma aparente obsessão em estar do “lado certo da História”, Obama deixa uns EUA mais fracos e com inimigos mais fortes.
Primeiro, o Iraque foi deixado numa guerra sangrenta entre o governo apoiado pelo Irão e o auto-proclamado Estado Islâmico. A invasão de 2003 foi um erro (e um crime), mas a retirada apressada dos EUA deixou o país no caos.
Na Primavera Árabe, Obama deixou cair velhos aliados como Mubarak, pouco recomendáveis, é certo, mas sem assegurar transições pacíficas e democráticas, abrindo caminho a violentas guerras civis e à crise de refugiados.
Na Ásia, os aliados dos EUA sentem-se cada vez menos seguros perante a China e preparam-se para uma Ásia pós-americana.
O Japão rearma-se a toda a força e países como as Filipinas voltam-se para Pequim. Por fim, a Rússia ganha força no Leste europeu e na Síria, assumindo a função de “polícia” do Médio Oriente, deixada vaga pelos EUA. Até a Turquia e Israel procuram chegar a um entendimento com Putin. E o Egipto retomou a cooperação militar com o Kremlin, após 40 anos ao lado dos EUA.
O mundo está mais perigoso do que quando Obama tomou posse, em 2008, em parte por causa das decisões de Washington.
Pode-se argumentar que este é o resultado inevitável do regresso a um mundo multipolar e do declínio expectável da hiper-potência, mas a administração Obama podia ter gerido esse declínio relativo de forma mais sábia. Pois de boas intenções está o inferno cheio.
Claro está que o que aí vem, se Trump vencer, poderá ser mil vezes pior.
Filipe Alves