As ditaduras caem por via de eleições ou não?

Começar com uma pergunta neste texto será o verniz para a nossa mente e, quiçá, para o raciocínio esquentado desta geração.

Da mente de uns estudiosos, vamos entender o que seria ditadura. Segundo Maurice Duverger, a ditadura pode ser definida como um regime político autoritário, mantido pela violência, de carácter excepcional e ilegítimo. Ela pode ser conduzida por uma pessoa ou um grupo que impõe o seu projecto de governo à sociedade com o auxílio da força. Normalmente, ditadores chegam ao poder por meio de um golpe de Estado. Já o filósofo político Norberto Bobbio afirma que a ditadura moderna é um regime caracterizado pela concentração absoluta do poder e pela subversão da ordem política anterior.

Ditaduras costumam ser bastante centralizadoras. O poder fica extremamente concentrado nas mãos da pessoa ou grupo que governa o Estado, com pouca ou nenhuma abertura para o debate político. 

Os espaços de comunicação e deliberação costumam ser fortemente regulados ou suprimidos. Isso inclui a imprensa, os poderes legislativo e judiciário (que deixam de ser independentes, como costuma ser de acordo com a divisão dos três poderes) e os partidos políticos, que muitas vezes são proibidos de existir. Dessa forma, calando vozes de oposição, as ditaduras forçam consensos e implementam as suas políticas com poucas ou nenhuma consulta à sociedade. É por isso que o autoritarismo e a violência são duas marcas de qualquer ditadura”.

Como então derrubar um ditador?

Antes de derrubar o ditador é preciso enfrentá-lo, tirar o medo no povo, entregar-se de corpo e alma e também conhecê-lo como age, que tipo de material usa, em que momento ele aparece e que tipo de pessoas usa. Essas estratégias ajudam na tomada de decisões.

Após este mapeamento, cortar o seu financiamento. Os governos sobrevivem da participação popular por via de impostos e taxas. O povo na linha do derrube pára de pagar qualquer taxa ou imposto para encurralar o ditador e apelar também aos países amigos a abandonarem os seus financiamentos, pois mantendo-os corroboram com o assassinato de pessoas de bem e aniquilam a força popular.

A sociedade interessada em derrubar o ditador deve investir muito na tecnologia. Antes as informações eram de carácter sigiloso e apenas um grupo de pessoas tinha acesso a elas, daí que se dizia que “informação era poder”. Hoje não há mais esse poder, todos detêm informações, por isso nenhum ditador pode manter-se por muito tempo com a pressão tecnológica.

Haveria um número definido para o protesto rumo ao derrube do ditador?

Será que todo o povo precisa de se levantar para o protesto? Não é necessário que todos sejam parte do protesto. Um estudo americano mostrou que 3,5% da população precisam de protestar para mudar o cenário. Na vida política ou num sistema politicamente ditador, os ditadores não podem ser removidos pelo voto popular, não basta votá-los, eles não se importam com o voto, havendo eleições ou não, sempre estarão no poder e com percentagens expressivas. Isto difere-se de um sistema democrático onde os políticos são removidos pelo voto popular, ou seja, a população decide nas urnas e implanta a alternância política.  Em uma democracia, se uma política é impopular, outros políticos podem ser eleitos com a promessa de aboli-la. Não existe tal mecanismo em uma ditadura.

Para pôr abaixo um ditador, os músicos, escritores ou outros artistas devem unir-se para uma causa única e fazer manifestação através da sua arte. Os religiosos precisam de lutar pelo bem comum e estar do lado do oprimido, suas mensagens, pregações, devem expressar a liberdade e encorajar o povo desesperado, os académicos precisam de sair do casulo elitizado para botar a mão na massa ajudando a população a compreender os factos.

Os médicos devem estar na linha da frente para ajudar aos feridos imediatamente, os advogados preparados para ajudar aos detidos a saírem das celas, os psicólogos estarem a acompanhar os jovens detidos para que não desenvolvam depressão. Os professores em salas de aula devem ensinar aos alunos o caminho da revolução, tudo deve tender a um objectivo comum, a liberdade mental.

Nesta acção, muitos serão presos, outros mortos, alguns em parte incerta e uns ainda fuzilados, pois o ditador mostrar-se-á mais furioso e, a cada minuto, mais violento. Não há revolução sem sangue, não há vitória sem sacrifício, não há vitória sem luta. No final das contas, os polícias usados pelo sistema reconhecerão o poder e a força do povo e eles aliar-se-ão, agora eles estão letárgicos pelo sistema, um pouco mais calmos, perceberão que é necessário lutar pelo bem.

Portanto, nenhum ditador saiu por via voto. O ditador é como piolho, prende-se na cabeça ou na roupa alheia. Ainda que o tente tirar, o melhor remédio é a permetrina de oito em oito horas. E o ditador para sair o melhor é a manifestação popular seguida da desobediência civil, onde serão cortadas todas as vias da sua fonte de receita.

Desmond Tutu diz: “muita gente pensa que as armas de fogo são fonte de medo do ditador. Não. O maior medo do ditador é quando as pessoas decidem ser livres”.

Portanto, a última estratégia para derrubar o ditador é descredibilizar a sua imagem no exterior onde busca os seus financiamentos e pressionar a comunidade a parar de dar dinheiro dizendo que esse dinheiro mata crianças, mulheres grávidas, idosos e toda a população.

Nunca a população se aventure em usar armas contra o ditador, fazendo isso sairá a perder no primeiro minuto. Use a força popular e a vontade de ser livre, pois essas estratégias são suficientes para deixar cair a mansão da ditadura.

JÚNIOR RAFAEL

Este artigo foi publicado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 02 de Dezembro de 2023, na rubrica OPINIÃO.

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