A futilidade das previsões anuais e o impacto das eleições

Aproxima-se aquela altura do ano em que especialistas, analistas e comentadores se apressam a produzir previsões sobre o ambiente geopolítico, económico e empresarial para o ano seguinte. Elaboram relatórios detalhados, repletos de estatísticas, e fazem projecções confiantes (ou alarmadas) sobre a política macroeconómica, política fiscal, crescimento, desafios e as reformas necessárias.

Mesmo sem incluir o cenário político nacional, que será definido em breve, ouviremos que 2024 foi o ano mais quente da história, acompanhado de discussões sobre as mudanças climáticas, a tensão entre a China e os EUA, a tendência de queda das taxas de juro, e até sobre uma possível bolha no sector da Inteligência Artificial e o pânico que isso poderá gerar nos mercados mundiais.

O conflito militar na Europa, iniciado em 2022, cujos impactos ainda hoje sentimos, foi a última gota de água para que eu deixasse de buscar este tipo de estímulo intelectual. Ano após ano, essas previsões falham em captar a realidade, pois uma verdade essencial permanece: economias e negócios são demasiado complexos para serem previstos com precisão, seja por quem for ou sob qualquer ângulo.

Jim Rohn, um dos autores que mais me marcou, falava frequentemente sobre a natureza imutável de certos aspectos da vida. Independentemente de qual partido político esteja no poder ou quem ganhe a presidência, os princípios fundamentais da vida e dos negócios mantêm-se os mesmos. “As estações do ano, assim como as da vida, virão e irão como sempre vieram”, dizia ele, referindo-se ao ritmo cíclico e natural da vida.

Olhando para o nosso contexto, deparamo-nos com uma realidade que muitos tomam por garantida: para efeitos práticos, o ano já acabou e 2025 só deverá começar verdadeiramente no segundo trimestre. Estamos, portanto, a entrar num período de “purgatório” de cerca de sete meses.

2024 não será apenas um ano de eleições em Moçambique. África do Sul, União Europeia, Portugal, Índia e Estados Unidos são apenas alguns exemplos de países ou regiões cujas relações são cruciais para Moçambique e que realizarão algum tipo de eleição no mesmo ano. Para nós, as eleições políticas têm um peso significativo, não apenas para a governação, mas também para o tecido socioeconómico do país. Ao contrário de algumas economias, onde os negócios parecem ser indiferentes a quem está no poder, o panorama político de Moçambique afecta directamente o ambiente económico. Quando um presidente cessante sai, deixa um legado de políticas, contratos e nomeações que terão repercussões no sector empresarial durante anos.

As transições políticas podem gerar optimismo ou incerteza, e cada um terá a sua própria forma de lidar com isso. No entanto, a influência é tão palpável que qualquer período de indefinição, como o actual, cria uma paralisia aparente. Contratos para projectos de infra-estrutura, empresas estatais e acordos comerciais internacionais estão todos sujeitos aos ventos políticos predominantes. Isto gera um dilema para as empresas que operam em Moçambique, pois o seu planeamento a longo prazo fica vulnerável a estas mudanças.

A lição fundamental para nós, líderes empresariais em países como Moçambique, é equilibrar a antecipação das mudanças políticas com o foco na construção de estratégias adaptáveis e resilientes. Embora os resultados das eleições sejam, sem dúvida, importantes, não devem determinar o destino das empresas.

Em conclusão, embora as previsões económicas apresentem grandes narrativas sobre as tendências futuras, muitas vezes estão erradas ao presumir estabilidade ou previsibilidade. Da mesma forma, as eleições, especialmente em Moçambique, trazem mudanças tangíveis, mas as empresas devem aprender a prosperar, apesar dessas incertezas, baseando-se nos fundamentos imutáveis da perseverança e da adaptabilidade.

Como Jim Rohn salientaria, o segredo do sucesso não está em esperar por condições favoráveis, mas em dominar a consistência e a disciplina pessoal. As empresas que prosperam não o fazem por preverem o futuro, mas por se adaptarem a ele. Constroem resiliência contra a incerteza, focando-se nos princípios básicos — boa gestão, inovação e relacionamentos.

Tal como as estações do ano, certos princípios da vida e dos negócios — trabalho árduo, disciplina e resiliência — permanecem inalterados perante forças externas, como mudanças políticas ou tendências de mercado. Embora governos e políticas mudem, a necessidade de adaptação, crescimento e foco na melhoria pessoal é intemporal.

O nosso foco deve estar em dominar o que podemos controlar — preparação, trabalho árduo e um compromisso com a navegação da incerteza com clareza.

BRUNO CHICALIA *

*  moçambicano, sócio da CTJ Consultoria

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 17 de Setembro de 2024.

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