Os espíritos fugiram – CÉSAR NHALIGINGA

Houve tempos em que a batucada era tocada com frequência, não havia manhã, tarde, nem noite sem seu som. O soar dos tamboretes e outros instrumentos eram considerados marcas do chamamento espiritual para qualquer acto que necessitasse de intervenção dos que bem entendiam sobre o tradicional.

Em diferentes regiões, bairros ou zonas, parecia festival de tambores, mas, o fim último era convocar a espiritualidade para manter próximo da cidadania pelo que a sua utilidade em diferentes cerimónias era fundamental.

Os peixes eram tirados do mar em maior quantidade, que para seu consumo precisava-se fazer um ritual (que versa em assar) e alimentar os defuntos para depois o consumo da população e venda deste marisco que hoje escasseia por conta do mau uso das águas do mar. Não havia tecnologia, somente o uso da pele em tambores de ferro para deste extrair o som que trazia aos residentes da Terra de boa gente uma maior satisfação a todos os níveis. As senhoras dançavam do ritmo abanando as suas ancas e traseiros, mãos na cintura ou na cabeça e os seus passos eram sempre para frente, mostrando que a vida não é feita de recuo.

Os homens aceleravam a batucada para fazer das senhoras suas preferências e escolha com maior vivacidade e sem sacrifício na conquista, foi momento de bom uso e gosto pela dinâmica na crença conjunta, afinal antes do início da respectiva tradição, havia um ritual que invocava todos os avôs-espirituais para dar a cobertura ao desejado.

As colheitas eram feitas em massa e de forma elevada. Havia celeiro para conserva de produtos que o grosso populacional consumia sem receio, à espera da próxima temporada, quer de sacha ou cultivo para a devida sementeira.

As roupas eram lavadas em poços, onde as mulheres (filhas) iam em grupo ficando por lá até que esta seque para a posterior recolha à casa, enquanto os rapazes se entregam à pescaria e caça para extração da pele dos animais para produção de mais batuques.

Se têm dito que no período em referência a sociedade no seu todo vivia como se fosse uma e única família (compaixão e companheirismo), por isso que até casava-se em família para o sossego dos espíritos que serviam de protecção do povo daquela região.

Havia ritual do amarrar das chuvas para evitar a queda de forma indesejada, não provocando o desmoronamento da terra e prejuízo às colheitas, bem como adiamento das cerimónias, mas os períodos para o efeito eram estudados conjuntamente e ensinava-se a outros para o seu domínio.

O zorré era a dança típica usada para alavancar a cidadania, com pé firme na terra, levantava-se nuvem de poeira acompanhados de sons de apito, vestiam-se de forma extrovertida para comungar o desejo à razão e consumo de bebidas típicas extraídas das palmeiras ou produzidas da cana, dentre outras frutas, os homens faziam o seu dia passar com maior satisfação e comemoração, invocando através do rito os (Vatonga), com considerados e temidos a todos níveis, cujos nomes eram tradicionais que com profundeza abençoavam a terra, cultivando o bem-estar para a cidadania e bom senso no seio da humanidade, daí que os espíritos eram protegidos e tornavam-se guardiãs da terra que os viu nascer, diz a escritura sagrada que Deus nos deu uma armadura espiritual e a Sua Paz para guardar nossos corações e mentes. 

CÉSAR NHALIGINGA

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 05 de Marco de 2025.

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