Angolanos votam hoje

Depois de uma campanha eleitoral relativamente tranquila, na qual os agentes da polícia nacional e os restantes protagonistas no processo, no cômputo geral, tiveram um comportamento plausível, os angolanos vão esta quarta-feira às urnas para escolher o sucessor de José Eduardo dos Santos, no poderhá 37 anos.

Foram 30 dias de campanha eleitoral relativamente tranquila, apesar de alguns incidentes “devidamente controlados”, de acordo com o balanço feito na noite desta segunda-feira,uma hora antes do fim oficial desta fase do processo angolano pelo presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), André da Silva Neto.

Angolanos escolhem hoje sucessor de José Eduardo dos Santos 4

O balanço oficial divulgado também nesta segunda-feira em Luanda pelo ministro do Interior de Angola, Ângelo Veiga Tavares, refere que seis pessoas morreram e “várias” outras ficaram feridas e 47 detidas desde o período de pré-campanha (seis meses) e até ao final da campanha eleitoral (iniciada a 22 de Julho) que terminou no dia 21 deste Agosto.

Efectivamente, durante os 30 dias de campanha eleitoral, os partidos políticos e coligação de partidos políticos desenvolveram uma intensa actividade de justificação e promoção das suas candidaturas, usando os diversos meios que a lei estipula, e através dela foi possível dar a conhecer aos eleitores e aos cidadãos em geral os princípios ideológicos, programas políticos, sociais e económicos por si sustentados, dentro do espírito de democracia participativa e do Estado de direito.

A Reportagem do Correio da manhã testemunhou, no terreno, comportamentos pedagógicos dos candidados, militantes, simpatizantes e agentes das forças da lei e ordem envolvidas na campanha. Em caso de encontro de caravanas ou grupos rivais eram apenas abraços entre os militantes de diversos concorrentes.

Angola votação

Mesmo na manhã de segunda-feira, na zona de Palanca, nos arredores de Luanda, dada a moldura humana que compunha os grupos do MPLA e da UNITA parecia que podiam ocorrer escaramuças, foram vistos oficiais superiores dos dois partidos se abraçando, enquanto os elementos da Polícia Nacional de Angola se aplicavam a fundo para conter os mais excitados. 

Para o presidente da Comissão Nacional Eleitoral, André da Silva Neto, esta campanha eleitoral, de forma geral, decorreu “num clima de paz, de liberdade e de justiça”.

“Os concorrentes observaram os preceitos políticos e éticos que regem as eleições e as nossas particularidades históricas”, disse André da Silva Neto, lamentando os “incidentes localizados”, mas “devidamente controlados e que se encontram a receber tratamento legal dos órgãos competentes”.

O caso mais grave até agora reportado pelas autoridades é relativo a uma alegada vandalização de uma viatura que transporatava alguns observadores eleitorais da Comunidade de Desenvolvimento de Países da África Austral (SADC), mas sem registo de danos humanos, acto repudiado “veementemente” pelo presidente da CNE.

Este alegado incidente ter-se-á registado na segunda-feira, no encerramento da campanha das eleições gerais de quarta-feira da UNITA, no município do Cazenga, província de Luanda.

“Tenho conhecimento oficioso (de)que (o acto)foi praticado pelo partido UNITA, vamos averiguar se efectivamente assim foi e, quando apurarmos que efectivamente assim foi, que assim o fez, vamos intimá-lo a justificar os motivos por que agiu assim e tomar as medidas pertinentes sobre o assunto”, disse Neto, à comunicação social, no final de um encontro com os observadores eleitorais, em Talatona (Luanda).

“Fisicamente, felizmente, não sofreram moléstias, foram só alvos de sevícias morais e psicológicas, mas as viaturas sofreram danos materiais”, comentou André da Silva Neto, sobre o incidente envolvendo observadores cujo grupo é presidido pelo moçambicano António Salomão Chipanga.

Angolanos escolhem hoje sucessor de José Eduardo dos Santos 4

O vice-presidente da UNITA, Raul Danda, disse que o partido teve conhecimento do incidente ocorrido já fora do local, onde também a sua viatura sofreu danos.

O político sublinhou que nos comícios não estão apenas presentes militantes do partido, mas também simpatizantes.

“Aquelas pessoas, naquele entusiasmo a pendurarem-se no carro, partiram o limpa-pára-brisas de trás e não acredito que a intenção deles fosse atacar”, disse Raul Danda, referindo-se ao incidente com a viatura em que seguia.

O vice-presidente da UNITA e candidato a vice-presidente da República nas eleições de 23 de Agosto salientouo encontro da noite de segunda-feira com os observadores da União Africana e lamentou o incidente.

“Não sei o que aconteceu com os observadores quando estavam a sair. No momento, não nos apercebemos de nada, só depois de sair é que soubemos disso”, frisou.

Sobre o pleito de hoje, o presidente da CNE fez uma exortação na noite de segunda-feira, sublinhando que “é chegado o momento” para os potenciais eleitores reflectirem face às mensagens que os concorrentes ao poder político foram passando, ao longo dos 30 dias de campanha eleitoral, e decidam qual deles merece a sua escolha, enfatizando que os eleitores devem exercero seu direito de voto “livre de pressões de qualquer espécie”.

“E no dia 23 acorram às assembleias de voto para, secretamente, escolherem o vosso preferido, na certeza de que o escolhido por vós é aquele que definirá efectivamente para todos nós um futuro de prosperidade, bem-estar económico e social”, encorajou André da Silva Neto.

REFINALDO CHILENGUE,  em Angola

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