Congresso/Filipe: Falcões
Falcões : Os congressos do partido Frelimo que dirige os destinos dos moçambicanos desde a independência nacional têm prendido a atenção de todos e o 11.º não pode ser excepção.
Assim o será até este domingo, quando cair o pano deste congresso em que Filipe Nyusi já entrou praticamente consagrado na presidência e como candidato único à sua própria sucessão, com chancela da Comissão Política (CP) que deverá conhecer significativas mudanças.
Tal como no seu discurso proferido a 15 de Janeiro de 2015, quando era entronizado nas lides do poder, a fasquia do seu discurso de abertura desta magna reunião da maior organização política no país foi colocada muita alta.
Nyusi, entre outras coisas, falou com analogia única do combate à corrupção, tal como o fizera há cerca de dois anos e meio na Praça da Independência. Chegou mesmo a dizer: “… Se fomos capazes de vencer a dominação colonial, temos de ser capazes de vencer a batalha contra a corrupção!”
É sabido que na luta pela independência alguns “camaradas” tombaram “porque eram traidores”!
O combate ao colonialismo levou uma década e o combate à corrupção, que chegou a estar no topo das prioridades do seu antecessor, em uma década chegou a níveis degradantes. Aliás, repugnantes, cuja expressão mais alta foi a “bolada” que se requintou de “soberana” e os seus principais artistas deram um profundo golpe nas suas “pobrezas” rumo à “riqueza absoluta”!!!
A corrupção tem sido um cancro desenfreado desde que iniciou o processo da consolidação de uma elite predadora, cujo véu há muito anda destapado, sem recurso à defesa que o justifique.
O “Caso Setina Titosse” é aquilo que poderíamos chamar de “Kuxa Kanema”, o intro ao filme da grande corrupção que se aguarda na grande tela.
Lembremo-nos que em 2015 Filipe Nyusi, num discurso cuja fasquia foi colocada no seu ponto mais alto, disse, em relação ao cancro da corrupção, que: “Tomaremos, sem condescendência, medidas de responsabilização contra a má conduta e actos de corrupção, favoritismo, nepotismo e clientelismo praticados por dirigentes, funcionários ou agentes do Estado em todos os escalões”.
A nível governamental, a destituição e posterior julgamento do então ministro da Justiça, Assuntos Religiosos e Constitucionais Abdurremane Lino de Almeida pode ter sido uma dessas medidas “sem condescendência” por ter metido as mãos no Cofre dos Registos e Notoriado, para presentear os seus “brothers” com uma visita a Meca.
Mas os moçambicanos esperam muito mais. Que essa fasquia colocada pelo presidente do partido Frelimo, que é simultaneamente Presidente da República, comece pela purificação de fileiras, na organização em que alguns basta terem o cartão de membro vislumbram nele o passaporte para a corrupção e impunidade!!!
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: Conseguirá Filipe Nyusi enfrentar os falcões?
LUÍS NHACHOTE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF da edição de 28 de Setembro de 2017 do jornal Correio da manhã de Moçambique, na rubrica semana DO LADO DA EVIDÊNCIA