Negligência

Falámos, dissemos e comentámos até à exaustão, neste espaço, sobre o trinómio corrupção, irresponsabilidade e impunidade. Com a “lição da Mocímboa da Praia”, importa acrescentar a negligência.

Lamentavelmente, desde que Moçambique existe como Estado independente têm sido estas as posturas que caracterizam as nossas autoridades: severas com o pacato, brandas com os prevaricadores e leviandade perante fenómenos violentos.

Sobre o último aspecto, (quase) todos nos lembramos sobre a forma como foram encaradas as primeiras acções armadas (1976) contra o regime estabelecido em Moçambique até se chegar ao deslinde (?) do mesmo (1992).

Hoje se está perante os episódios de Mocímboa da Praia. O que se assiste é que as autoridades de tudo fazem para minimizar o fenómeno, principalmente eventuais laços com redes radicais do terrorismo internacional.

Aparentemente, pouco se investe na busca da génese e motivação dos atacantes. Aflora-se tudo de forma leviana e sem um foco específico, quando todas as hipóteses deviam ser tidas como válidas/possíveis, até se encontrar a origem e motivações reais dos insurgentes.

Acrescentamos a componente NEGLIGÊNCIA porque, praticamente todos os relatos oriundos do teatro das operações, indicam que as autoridades foram, amiúde, alertadas das movimentações de pessoas estranhas e pouco ou nada fizeram.

A Polícia, que é a “cara” do Estado e por tal a visada número um pelas acusações populares de falta de atitude, rapidamente “sacudiu o capote” e dirigiu o dedo acusar aos “outros gestores da Justiça”, que alegadamente “soltam os suspeitos” quando detidos e acusados pela corporação da Lei e Ordem.

Aparentemente, ninguém abordou esses “outros gestores”, pelo menos neste caso e local concreto.

Ou se vai culpabilizar a população toda de Mocímboa da Praia, quem sabe, por “falta de seriedade”?

Pouco ajuda o discurso oficial de que os atacantes não são activistas do Al Shabaab, ora porque “são todos nacionais e falam kimwani”, ora porque não têm uma hierarquia de comando devidamente identificada, ora porque não possuem contas nas redes sociais, etc., etc. Convenhamos!

Sem pretender defender alguma postura xenófoba ou ditatorial, sou de opinião de que o Estado deve ser proactivo a lidar com determinado tipo de fenómenos, sob pena de cairmos em diversos cataclismos simplesmente evitáveis.

REFINALDO CHILENGUE

Este texto foi publicado em primeira mão na versão PDF  do Correio da manhã no dia 13 de Outubro de 2017, na rubrica semanal TIKU 15!

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