Os embaraçados
Os embaraçados – Foi por mera coincidência que calhamos no mesmo hotel na emblemática cidadela turística de Sun City, na vizinha República da África do Sul (província de North West) e esta quinta-feira (17Mai18) partilhamos a mesma mesa ao pequeno-almoço.
Conhecemo-nos desde 1993 quando ambos frequentávamos o primeiro ano de faculdade na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em bora em cursos diferentes, mas todos do mesmo Departamento.
Lá nos embrenhamos em amena cavaqueira, como óbvio, começando por recordar os velhos e bons tempos no campus, ainda jovens, até aos dias que correm, já pais e com famílias constituídas.
No meio da conversa o meu amigo, hoje “analista residente” num dos meios de comunicação social de referência de Moçambique, tão solícito que é capaz de aceitar debater todo o tipo de temas – acredito que não declinaria mesmo um sobre a física nuclear -, lá começou por lamentar da “falta de assuntos, coisa que começou com a declaração de tréguas em finais de 2016”.
“Meu irmão! Imaginas o embaraço em que estamos metidos. Se dantes nos debates exigíamos a paz. Depois da trégua começou a ficar complicado. Tínhamos que resgatar episódios do passado tenebroso da RENAMO e do [Afonso] Dhlakama para alimentar as análises. Agora que o velho morreu … (risos, da parte dele) ”.
Olhei, esboçando um sorriso (amarelo), me recordando de um inesquecível ensinamento que bem guardo do meu docente de “Metodologia de Investigação”, Prof. Dr. Carlos Serra, que sempre nos advertiu a evitar aparecer levianamente em debates públicos, principalmente na media, para não nos vulgarizarmos e até certo ponto nos ridicularizar. Tento ao máximo seguir este ensinamento.
O nosso “matabicho” e conversam prosseguiram e para desanuviar provoquei outros assuntos de conversa, fora da política…
Efectivamente, quem, hoje, acompanha alguns debates, nota o desalento em que muitos daqueles que ou por frequentar alguma instituição de ensino superior ou porque já ostenta um diploma qualquer se julgar Dr. e com credenciais bastantes para analista estão mergulhados. Já não há paleio consistente, senão insistir no historial da RENAMO e do já falecido Dhlakama, enfatizando o lado mais cinzento, com aquele enfadonho palavreado sem substância.
Na verdade já há muito o país anda farto deste tipo de “analistas”. Desconfio, até, que eles próprios estejam fartos de si mesmos.
São os embaraçados que Dhlakama deixou! Uma vez mais, Paz à Sua Alma!
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 18 de Maio de 2018, na rubrica semanal TIKU 15!
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