Polícia emite mau sinal

Polícia emite mau sinal – A violência protagonizada pelas forças policiais contra a caravana da Renamo, tendo invadido a delegação e levando consigo, aos pontapés e  cacetadas, mais de 10 membros, entre menores, mulheres e homens, é um forte sinal de que as eleições de 10 de Outubro foram a ferro e fogo. Aliás, o comandante-geral da Policia da República  de Moçambique, General Bernardino Rafael, bem havia avisado ainda que os visados se comportem como se nada lhes dissesse respeito. Não têm que ficar admirados quando a polícia lhes vai em cima. Ninguém protestou.

Quem esteve atento às reiteradas declarações do comandante da PRM, deve ter percebido que Bernardino Rafael recomendou aos políticos para revisitarem a Lei Eleitoral e o seu cumprimento escrupuloso. Chamou ainda atenção especial aos fiscais e delegados de candidaturas daqueles políticos que sempre reclamam que lhes roubaram votos. O comandante não podia ser mais claro que isso. Tudo foi dito por palavras bem acertadas e o resto é só saber interpretar a intenção aí subjacente.

Na Vila autárquica do Alto Molocué, na província da Zambézia, uma caravana do MDM foi, igualmente, vítima de pancadarias pela polícia. A violência  policial contra as caravanas dos partidos da oposição está a tornar a maneira corrente de forças cuja tarefa principal deveria ser proteger o cidadão, o seu verdadeiro patrão porque paga imposto que garante o salário de cada mês do polícia. Hoje, bater em membros da oposição, prender, encarcerar é tão normal quanto beber de água para a nossa polícia que se diz equidistante das forças políticas.

Presidente Nyusi, após votar nas quintas eleições autárquicas em Maputo
Presidente Nyusi, após votar nas quintas eleições autárquicas em Maputo (cortesia da Presidência da República)

A prática quotidiana desmente isso e demonstra, de forma inequívoca, que a Polícia está, altamente, partidarizada e defende, com unhas e dentes, o partido governamental. Não se conhece nenhum caso em que a polícia tenha interrompido  ou barrado uma marcha do partido Frelimo. Até uma simples marcha de professores ou de qualquer organização da sociedade civil é recebida com bastões e cães-polícia que os esfola e rasga-lhes a carne. Enquanto isso, uma manifestação da OMM, OJM ou Continuadores da Revolução são quecados ao colo da nossa polícia.

A polícia  não age de tal modo em cumprimento da lei, mas para satisfazer os apetites dos que pensa ser os donos do país. Se até  a própria a Renamo, um partido ainda armado, é sujeito a essa espécie de sevicias e humilhações, qual será  a sorte que lhe reserva depois de ser desarmada? É uma questão pertinente a ter em conta.

Assim foi o processo de votação nas eleições de 10 de Outubro de 2018
Assim foi o processo de votação nas eleições de 10 de Outubro de 2018 (foto encontrada no mural de Sérgio Costa)

Sem armas para se defender, a Renamo passará  a ser considerada, aos olhos da polícia e do partido Frelimo,  como PASOMO, PIMO, os VERDES ou um desses partidos que pululam nas nossas cidades. Não  se trata de menosprezar os partidos que citamos, mas é a nossa antevisão de como as irão evoluir.

Seria de extrema importância que a Renamo veja com cautela os passos que está a dar para evitar arrependimentos posteriores. A Renamo sem armas, fica sozinha a Frelimo como partido armado. Sem equilíbrio de forças, voltamos à situação de 1975. É urgente que as Forças de Defesa e Segurança parem de apadrinhar a Frelimo para que todos sejam iguais!

Edwin Hounnou

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 11 de Outubro de 2018 na rubrica semanal  MIRADOURO

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