Mothasse acolhe “Gito”

Destroçada e em prantos, a localidade de Mothasse, distrito de Magude, recebe, hoje, os restos mortais de um dos seus filhos cujo nome e realizações ultrapassaram as fronteiras de Moçambique: Rogério Manuel, carinhosamente tratado por “Gito”.

Efectivamente, os restos mortais de Rogério Manuel, morto num acidente de aviação no passado sábado (Cm N 5477, págs. 1 e 2), chegam na tarde de hoje a Mothasse para serem sepultados na manhã desta quinta-feira, naquele que poderá ser o mais mediático e concorrido enterro jamais realizado naquela localidade do norte da província de Maputo.

Antes de seguir para Mothasse, haverá velório (das 13h00-16h00) ao corpo do finando na Igreja Nossa Senhora das Vitórias, em Malhangalene, cidade de Maputo, numa sessão a ser orientada pelo Reverendo Padre Horácio Simbine.

Filipe Jacinto Nyusi é, segundo dados em poder do Correio da manhã, um dos dignitários que estará presente na missa de corpo presente e velório de Rogério Manuel.

Espera-se que numerosos empresários, político, fazedores de opinião, entre outros dignitários, acorram esta quinta-feira a Mothasse para testemunhar o último “adeus” àquele que em vida, entre outras funções foi presidente da Federação Moçambicana dos Transportes (FEMATRO) e da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).

Presidente Nyusi amparando alguns dos familiares do finado Rogério Manuel
Presidente Nyusi amparando alguns dos familiares do finado Rogério Manuel

Como é óbvio, a figura de Rogério Manuel divide opiniões mesmo na terra que o viu nascer aos 12 de Fevereiro de 1961.

Ao que o Correio da manhã constatou no terreno, na pacata região de Mothasse, há uma (quase) unanimidade sobre “Gito”, como quase todos tratavam, em vida, a Rogério Manuel.

“Ajudou muito no desenvolvimento da zona. Foi graças a ele que hoje temos ruas transitáveis, água canalizada e energia eléctrica aqui”, comentou Manuel Cossa, em declarações ao Correio da manhã.

“Tio Gito era uma boa pessoa e só posso dizer que perdemos um pai aqui”, comentou Marta Nuvunga, uma jovem que depois de pronunciar estas palavras não conteve a emoção e, enxugando as lágrimas, se afastou do local onde estávamos.

Gilda Sambo, residente nas imediações da lendário vila de Magude, comentou que “uma das coisas que poderá ter manchado a imagem do Gito foi ter  `comprado´ Nkanhine’. Mas de resto ele era uma boa pessoa”.

Marcos Cossa, outro residente de Magude, também apontou a “privatização” de Nkanhine por parte do empresário Rogério Manuel como “uma das poucas manchas” conhecidas naquela região, no perfil do finando empresário de Mothasse, mas depois enfatiza: “ninguém é perfeito em vida: Todos temos o lado bom e o lado menos bom. Que Gito descanse em paz. Ele é nosso filho e ainda bem que escolheu a terra que o viu nascer para nela repousar, em definitivo”.

“Nós os africanos enaltecemos o lado positivo da pessoa quando morre e reservamos a Deus a parte referente ao julgamento global do que a pessoa fez em vida na terra. Somos todos pecadores e o Gito não podia ser excepção. Gito fez coisas muito boas e não boas durante a sua passagem por este mundo. Quem não comete erros nesta terra? ”, avaliou ancião Francisco Miambo, que falou para o Cm próximo à entrada da Vila de Magude.

“Magude, em particular e Moçambique, em geral, perderam um verdadeiro nacionalista, um homem que animou o desenvolvimento da terra onde nasceu e não olhava ao grau de parentesco para dar uma ajuda”, comentou o jurista e empresário de restauração Simeão Cuambe, também natural da terra onde tombou um dos mais lendários guerreiros de resistência contra a ocupação colonial portuguesa, o general do Rei Ngungunhana, Maguiguana Cossa.

Nkanhine é a principal atração turística de Magude, por ser nessa árvore onde, segundo a história, Ngungunhana habitualmente repousava e desenhava as suas estratégias de resistência contra a dominação portuguesa em Moçambique.

Rogério Manuel era um empresário multifacetado, com interesses nas esferas dos transportes, agropecuária, construção e aluguer de equipamentos, entre outras.

Redacção

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