Moçambicano no holocausto
O moçambicano Emmanuel Sithole, vítima mortal de xenofobia em Abril de 2015, no bairro de Alexandra, norte de Joanesburgo, é figura emblemática na exposição do Centro de Holocausto e Genocídio de Joanesburgo aberto quinta-feira da semana finda.
A fundadora e directora do centro, Tali Nates, considera que a exposição visa alertar sobre consequências de xenofobia, preconceitos de racismo e perigos de apatia, indiferença e silêncio no Mundo.
O ataque fatal contra o imigrante moçambicano Emmanuel Sithole foi captado por fotojornalista do semanário sul-africano Sunday Times no auge da violência contra estrangeiros, sobretudo africanos, em Abril de 2015 na África do Sul.
Mais de sete pessoas, incluindo moçambicanos foram assassinadas em 2015 em Durban e Joanesburgo.
A foto do ataque contra Emmanuel Sithole correu o Mundo, mas o então presidente sul-africano Jacob Zuma minimizou dizendo que Sithole era imigrante ilegal.
Entretanto, os três jovens sul-africanos autores do crime foram procurados, detidos, julgados e condenados a penas de prisão que variam entre 17 anos e 10 anos.
O centro de Holocausto e Genocídio de Joanesburgo recuperou, ampliou a foto de Emmanuel Sithole e colocou numa das vitrinas na primeira sala da exposição do majestoso centro de lembrança.
A exposição tem muitas fotos e 1500 livros e vídeos reportando casos de holocausto e genocídio registados em vários cantos do Mundo desde 1904 na Namíbia, passando por massacre de seis milhões de judeus na Europa durante a segunda guerra mundial e o genocídio de 800 mil pessoas no Ruanda em 1994.
Os gestores do centro de Holocausto e Genocídio trouxeram dois sobreviventes: um do Ruanda e senhora da Hungria, que sobreviveu ao Holocausto, e agora com 93 anos.
Os dois sobreviventes refugiados na África do Sul lamentam que o Mundo continua a tolerar casos de genocídio motivados por factores ideológicos económicos, sociais, políticos, religiosos e de racismo.
Syvestre Sendacyeye, ruandês sobrevivente de genocídio, disse ao jornal Correio da manhã que não pode afirmar seguramente que na África do Sul está seguro, porque acredita que o que aconteceu em casa (Ruanda) também pode acontecer mesmo aqui. Vê a xenofobia a acontecer aqui, vê pessoas a atacarem estrangeiros e suas lojas.
O ruandês que perdeu os seus pais e três irmãos no genocídio em 1994 deplora pronunciamentos frequentes de sul-africanos contra estrangeiros.
Syvestre Sendacyeye chegou a África do Sul há 17 anos e acompanhou a violência xenófoba que ocorreu em 2008 e 2015. Mais de 60 pessoas incluindo moçambicanos foram brutalmente assassinadas.
Para a fundadora e directora do centro, a sua instituição é um lugar de aprendizagem no qual pessoas de todas as idades e de extractos sociais juntam-se como equipa para aprender histórias de holocausto e de genocídio.
Tali Nates disse ser necessário fala-se abertamente do Ruanda, da Namíbia e de Holocausto.
Tali Nates que disse ser filha de sobreviventes de holocausto na Europa considera que conversas abertas são ponto de entrada para falarmos da nossa própria história e aprender dessas histórias para nós mesmos.
Para Tali Nates, confrontar a história e aprender dela é mais importante.
O centro de Holocausto e Genocídio de Joanesburgo está aberto seis dias por semana, sendo que as visitas são gratuitas. Entretanto, os gestores aceitam doações.
O Centro está ligado a outras instituições similares mundiais.
Com a África do Sul em campanha eleitoral rumo às eleições gerais de 8 de Maio próximo, o assunto da migração e da xenofobia domina os discursos políticos, assustando os imigrantes que ainda se lembram da morte de Emmanuel Sithole e de muitos outros durante a violência contra estrangeiros em 2015 e 2008.
Entretanto, três moçambicanos foram assassinados domingo, 10 de deste mês na região de Katlehong, sul de Joanesburgo, em locais separados e em circunstâncias ainda desconhecidas.
Os autores de dois dos três casos estão a monte. Uma fonte da comunidade na zona de Katlehong disse ao Correio da manhã em Joanesburgo que o terceiro caso envolveu moçambicanos numa situação de bebedeira. A fonte acrescentou que os restos mortais de uma das vítimas seriam levados a Maputo passado para efeitos de funeral. A outra vítima seria enterrada na África do Sul, porque ninguém conhece o paradeiro dos familiares em Moçambique.
THANGANI WA TIYANI, CORRESPONDENTE NA ÁFRICA DO SUL