Tempos difíceis por vir!
Tempos difíceis – Podemos imaginar como serão os próximos tempos para o povo moçambicano quando o país começar a exportar o Gás Natural Liquefeito, GNL. Segundo informações relevantes, a exportação do GNL terá o seu início em 2024 e a partir daquele momento, o Estado vai encaixar biliões de dólares norte-americanos que irão fortificar o regime do partido Frelimo e a sentir-se menos dependente das potências estrangeiras que têm condicionado o seu apoio financeiro à abertura democrática.
Com a robustez económico-financeira do Estado que se perspectiva para breve, o partido Frelimo irá escravizar o povo e os recursos naturais – gás natural, petróleo ainda em prospecção, minerais, etc., – servirão para amaldiçoar o povo de Moçambique, como acontece em vários países africanos em que as riquezas nacionais servem para enriquecer as elites do partido governamental e consolidam regimes corruptos, autocráticos e ditatoriais. São raros os exemplos que as riquezas dos países africanos serviram os seus povos e ajudaram a democratizar os sistemas políticos.
De Angola, país com afinidades históricas com Moçambique, passando por Guiné-Equatorial, desaguando na Nigéria e Chade, países exportadores de petróleo e diamantes, chegam-nos péssimas notícias sobre a gestão dos fundos provenientes desses recursos. Nada nos garante que o nosso país venha a tomar um rumo diferente porque a mentalidade dos nossos dirigentes é “vamos comer porque esta é a nossa vez”. Eles comem tudo e não deixam nada, como cantava o trovador luso, Zeca Afonso.
O nosso país não vai ter melhor performance económico-financeiro por possuir recursos naturais e nós gostaríamos de deixar esta visão bem clara para que não tenhamos ilusões. Eles correram para fazer calote das dívidas inconstitucionais a pensar nas mais-valias do gás da Bacia do Rovuma. Eles correram atrás do ovo ainda no cu da galinha, como o povo costuma sentenciar aos espertinhos do partido Frelimo. Muito antes do gás natural pingar, foram a correr para fazer fiado, tendo ficado o dinheiro com eles, julgando que essa dívida inconstitucional, seria paga com os fundos provenientes do gás, porém, a bala saiu-lhes pela culatra. É assim que arruínam a economia nacional esses gatunos.
Ao invés de fazerem um profundo acto de contrição, mostrando ao povo que vêem procedendo mal, fingem que são democratas e enchem as urnas de votos falsos. Roubaram ao povo, mataram e derrubaram a economia nacional, ainda pretendem cavalgar o povo através de falsas eleições embrulhadas em promessas que, antecipadamente, sabem que não vão cumprir. Eles querem mostrar a cara que nunca tiveram.
Pretendem demonstrar ao mundo que continuam no poleiro porque o povo os quer, mas, se isso fosse verdade, eles não precisariam de fechar círculos eleitorais, como as províncias de Inhambane e Gaza, vários distritos de Manica, aos demais concorrentes. Não teriam feito uma escandalosa extrapolação do número de eleitores em Gaza nem teriam privatizado os órgãos eleitorais – STAE e CNE – transformando-os em suas células.
As fraudes eleitorais que são concebidas pelo partido Frelimo são operacionalizadas pelos órgãos eleitorais e pela polícia. Estas eleições não foram livres nem justas muito menos ainda transparentes. Foram, isso sim, das mais injustas e violentas que ocorreram, entre nós, desde que o sistema multipartidário foi adoptado. Foram eleições de vergonha!
Houve uso abusivo dos meios púbicos por parte do partido Frelimo. O que procuravam os agentes do partido Frelimo quando andavam de casa em casa a recolher números dos cartões de eleitores para fins desconhecidos? Agora, já são conhecidos. Já se sabe para quê queriam os números dos cartões de eleitores. Tanto a Renamo quanto o MDM denunciaram esse novo “recenseamento” que o partido Frelimo fazia, todavia, o STAE e a CNE mantiveram-se suros e mudos. Eles sabiam da jogada que o partido Frelimo estava a preparar.
Tudo aquilo era para a fraude massiva cujo chefe-mor andava a cantar que seria uma goleada de “5-0”. A recusa de credenciar observadores nacionais e estrangeiros deixou estas eleições sem gosto de nenhum, só comparável à comida sem sal feita para doentes terminais. Nenhuma eleição nestas condições pode credibilizar o sistema que se diz democrático. Quando há imposição, deixa de ser democracia. Quando há truques para se manter no poder, estamos perante um sistema corrupto e totalitário. Quando há intimidações até com assassinatos de pessoas de bem, estamos a caminhar, a uma velocidade estonteante, para o fascismo e isso deve deixar preocupados a todos que aspiram ver um sistema democrático, em Moçambique. O povo está cansado do partido Frelimo.
Se mesmo com o boicote económico apertado, o partido Frelimo joga desta maneira, não queremos imaginar como vai agir quando começar a encaixar fundos do gás e, provavelmente, do petróleo! Vai gritar que não precisa de ouvir a ninguém e tentará instalar um sistema multipartidário e ditatorial. Será o fim do povo moçambicano. É urgente que as forças democráticas comecem a agir para impedir que a tragédia que o partido Frelimo está desenhando não se concretize. Isso, agora mesmo, passa pelo não reconhecimento dos resultados destas eleições por terem sido bastante fraudulentas.
À comunidade internacional não basta emitir um “comunicadozinho” de condenação ou de repúdio contra a actuação do partido Frelimo. É preciso agir e com veemência contra a forma como o partido Frelimo se comportou.
Aos partidos nacionais espera-se que repudiem, com firmeza e determinação, os resultados eleitorais e exijam não só uma nova eleição como também um novo recenseamento sob a supervisão das Nações Unidas. Afastem este cálice de sangue! Não deixem que o partido Frelimo dê de beber fel ao povo! Façamos alguma coisa de modo a impedir que o partido Frelimo empurre o nosso país para hecatombe!
EDWIN HOUNNOU
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 24 de Outubro de 2019, na rubrica semanal O MIRADOURO
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