Administrador do Ibo

Administrador do Ibo  – Gesto raro nos dias que correm, Issa Satar Momade, o administrador do distrito do Ibo, região muito assediada por terroristas que há sensivelmente três anos flagelam diversas zonas da província nortenha moçambicana de Cabo Delgado, recusa ser dos primeiros a sair da sede distrital local para outro ponto considerado “relativamente seguro”.

Issa Momade entende ser “injusto” ser ele, como dirigente, dos primeiros a sair da sede do distrito do Ibo, deixando para trás o seu povo, segundo um portal de comunicadores comunitários de Moçambique, sedeado no Norte do país.

Consta que muito recentemente Issa Satar Momade mandou voltar para a procedência um helicóptero enviado à sede do distrito do Ibo expressamente para resgatá-lo, preferindo que a aeronave regressasse com outros passageiros “anónimos”.

A postura do administrador do Ibo está a animar muitos comentários neste distrito e não só, facto alimentado por se atentar ao momento em que vivemos, caracterizado por enorme falta de líderes à altura, que comungam o nobre princípio de “primeiros nos sacrifícios e últimos nos benefícios”.

Esta opção do administrador do Ibo, por coincidência natural desta terra, tem merecido rasgados elogios de muitos residentes locais, que recordaram a mesma postura de Issa Satar Momade, aquando do ciclone Kenneth, em Abril de 2019, quando se recusou a sair da sede daquela que ele apelida de “Ilha Bem Organizada” (IBO) quando esta foi 90 por cento destruída por aquela intempérie.

Sabe-se que este discreto antigo combatente de 68 anos de idade, que já dirigiu a capital provincial de Cabo Delgado antes de seguir para Ibo, em algum momento declinou ofertas para ir trabalhar para a relaxada cidade de Maputo, insistindo em permanecer na terra que o viu nascer.

O Correio da manhã sabe que em ambientes reservados Issa Satar Momade jura que não vislumbra motivos para abandonar Ibo, onde afirma pretender concretizar velhos sonhos, incluindo o incremento da produção de café, sendo ele dono de alguns cafezeiros naquela região.

Um empresário com interesses em Matemo –  localizada a Nordeste da ilha do Ibo, na província de Cabo Delgado – comentou para o Correio da manhã não ser surpreendente a atitude de Issa Satar Momade.

“Veja que no lugar de pensar em sair da sede distrital o nosso administrador apenas se preocupar em resolver os problemas da população, sem sair do local. Sei que a sua preocupação actual, por exemplo, é mandar reparar o barco que garante a comunicação entre a sede distrital e o continente, que recentemente registou uma avaria no motor. Simplesmente impressionante a postura deste homem (Issa Satar Momade)”, comentou a nossa fonte.

Tal como muitos pontos de Cabo Delgado, o distrito de Ibo tem estado sob constante ameaça de terroristas presumivelmente associados ao Estado Islâmico que desde Outubro de 2017 desencadeiam ataques que já se saldaram em mais de 1300 mortos e centenas de milhares de deslocados e destruições consideráveis.

Aparentemente Issa Satar Momade é o único dirigente que rejeitou abandonar o local sob sua administração ameaçado pela chamada “insurgência” em Cabo Delgado, que mesmo nos dias mais recentes testemunhou refregas e/ou demonstração de forca em diversos pontos, tais como Maringanha, Wimbi, Inus, Runho, Nambo, Naunde, Chabane Combo, Rueia e Paquite e Lontho (Nunumwana), Mucojo, Pangane, Messano e Muitiuro.

 (Correio da manhã de Moçambique)