A força da desinformação

A força da desinformação – Era numa tarde de sol ardente quando acabei de chegar na minha casa, em Mieze, cerca de 20Km da Cidade de Pemba, Capital da Província de Cabo Delgado, de belo Moçambique. Vinha de mais uma jornada de colheita do milho da minha machamba, localizada em Macaricari, num entroncamento entre o rio deste mesmo nome e o rio Mieze.

Estava muito cansado e, o banho, achei melhor dispensar para o dia seguinte, porque queria, imediatamente comer e dormir. Comí e dormí.

Em plena noite, sei lá se eram 00H00, senti algo a mexer-me no tronco do meu corpo e eu, conduzi a minha mão para afasta-lo; de novo, algo mexeu-me na cabeça e eu, desta vez lancei um soco: afinal, era a esposa a me acordar preocupada por um movimento cruzado de pessoas, carregadas de bagagens, umas saindo do lado da Escola Secundária Padre Atanásio Valério Mwitu para a Sede do Posto Administrativo de Mieze e, outras, contrariando este movimento. Arrumei-me de um corajoso e sensibilizei a esposa a ter calma.

Levantei-me da cama e notei que os meus filhos e netos estavam todos de pé e aterrorizados. A minha neta Julieta, órfã de mãe e que vive comigo juntamente com seus quatro irmãozinhos, já tinha fugido de casa, levando apenas a sua filhazinha.

Espreitei fora da casa, confirmei o movimento e saí. Interpelei um dos fugitivos questionando a razão da movimentação e só disse: “ouvi que já entraram”. Questionei uma outra pessoa e, esta me disse: “estão a queimar casas”.

Imbuído de coragem, que confesso ser frequente em mim, tomei a iniciativa de telefonar para vários meus familiares e amigos também residentes em Mieze. Na 1ª chamada telefónica, o meu interlocutor disse-me que estava escondido algures perto da casa, porque viu pessoas correndo com bagagens: este vive do lado Oeste de Mieze.

Na 2ª chamada, o meu primo que vive do lado Leste, disse-me que não devia demorar na conversa telefónica porque tinha medo de ser visto a falar ao telefone a noite e ele estava escondido juntamente com os filhos porque viu as chamas de um incêndio, supostamente duma casa com fogo posto por “eles”. Por último, liguei para um amigo que vive no Sul de Mieze e este disse o seguinte: “estimado, tenha calma, o que eu ouvi, é que indivíduos não identificados (ladrões), atearam fogo em duas viaturas, sendo uma avariada e outra operacional, ambas estacionadas à beira da estrada, aqui em Mieze. E coincidentemente, num dos bairros, duas casas pegaram fogo, nesta mesma noite. Mais outra coisa, não ouvi”.

Deduzi que a fuga da população de Mieze, era pela força da desinformação. Entrei no meu quintal, mandei os filhos e netos dormir. Eu e esposa também fomos dormir no nosso quarto. Só tive pena da Julieta e filha que foram dormir num lugar incerto! …

(A força da desinformação)

ATANÁSIO AMBA

Este artigo foi intitulado “A Força da desinformação”, foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 17 de Junho de 2022, na rubrica de opinião denominado OPINIÃO.

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