A minha vergonha

É difícil conversar sobre vergonha, mas sinto que esta emoção também pode ser a mais simples de reconhecer em nós mesmos. Além de despertar muita dor, coloca-nos em situação para reflexão junto da sociedade.

De malas aviadas à terra dos outros, é chegada a hora da largada, por isso fui ao aeroporto internacional para o devido “embarque”. De roupa colorida, como o habitual, scanner feito com sucesso, emoção à flor da pele, documentos na mão mesmo em banco de espera para o devido voo.

Minutos depois, chegado o famoso Boeing 442, cuja imagem ainda em mim paira, ouço uma voz num aparelhos que dizia: “preparem-se que dentro de minutos decolaria de acordo com o destino para (cidade A e posteriormente cidade B)”. Deu para perceber que escalaria duas cidades, pois havia um número considerável de passageiros.

Abraçada a família como é de praxe, aperto de mãos aos que estavam juntos fazendo compasso de espera. “Até breve” e falamos telefonicamente” eram as vozes de recomendação para que juntos estivéssemos (um por terra-mãe, outro por terra alheia).

Entro na sala de espera, mesmo para atravessar a porta em direcção à pista. Toca o detentor de metal. Mandam-me voltar para melhor controlo. Mais uma vez toca o aparelho. Sou obrigado a ir ao quarto de banho com o segurança para a devida investigação. Era o alfinete que colocara para segurar as calças, porque tinha oferecido o cinto àquele amigo de infância como recordação, para além de ter insistido que o deixasse com ele. Senti-me envergonhado naquele instante, não diante dos colegas de viagem, mas sim dos membros da minha família que me acompanhavam. Vi-me obrigado a prender as calças com uma linha em substituição do cinto que me fazia falta no momento, tendo ficado um aprendizado para mim e para os outros que conjuntamente viajavam no mesmo aparelho, “necessidade de organizar-se antes de se fazer ao meio de gente, principalmente quando não sabe qual o funcionamento de cada posto de trabalho”.

Percebe-se que a vergonha pode se tornar um empecilho e, até mesmo, um sentimento prejudicial, porque diversas pessoas, normalmente, não conversam sobre as situações que lhes causam, tornando desta um sentimento sufocante.

 Em Isaías 53:3, está patente que “Era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum”.

Caro amigo, precisamos de saber que, por vezes, a razão da nossa vergonha está em nós, saber se posicionar para evitar os demais atributos em redor é fundamental, tal como é importante ouvir conselhos de qualquer um que seja, cabendo a ti extrair o essencial para fazer face aos dinamismos.

CÉSAR NHALIGINGA

Este artigo foi publicado intitulado “Solidariedade social” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 11 de Janeiro de 2024, na rubrica OPINIÃO.

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