Al-Shabab está a matar

O fenómeno Al-Shabab, na zona costeira da província de Cabo Delgado, não tem sido tomado em consideração devido pelo governo que se limita a transmitir a ideia de que se trata de criminosos do delito comum, como ladrão de galinhas ou de abóboras. As populações estão a morrer. Todos os dias há ataques e decapitações em Palma, Mocímboa da Praia, Nangade e Macomia. A resposta das forças governamentais contra os insurgentes não tem sido eficiente. As populações vítimas dos ataques sentem-se abandonadas à sua sorte. Ninguém as defende como deveria ser. No governo, já ninguém se lembra como se luta contra uma insurgência.

Quando a noite chega, o desespero toma conta da gente porque ninguém sabe quem voltará a ver a luz do sol. Uns dormem em grupos enquanto outros procuram esconderijos nas matas. O governo, que tem a obrigação constitucional de defender as populações, até aqui não diz quem são esses indivíduos que semeiam terror nem fala o que pretendem atingir com as mortes que espalham e as destruições de bens e de infraestruturas socioeconómicas como centros de saúde e escolas. A situação é bastante séria para o governo não se deixar dormir.  Apesar de tarde demais, ainda se pode tomar medidas para se inverter o ambiente de terror, havendo vontade política se outros interesses obscuros não se sobreporem ao interesse nacional.

É falso dizer que o fenómeno Al-Shabab surge com a descoberta do gás e petróleo. A preparação para o seu surgimento remonta desde que o presidente Samora Machel assinou, em 1981, o entendimento com o presidente do Sudão, Omar El-Bachir, a implantação, em Moçambique, da Africa Muslim Agence que tinha, no seu programa, duas componentes – educação técnico-profissional e a formação religiosa/apoio humanitário. Aí Moçambique comprou briga que, hoje, produz mortes e destruições. A Africa Muslim Agence começou a recrutar jovens para irem estudar, para além de outros ramos do conhecimento, o Al Corão, no Sudão, Arábia Saudita, Iêmen e outros países islâmicos. A partir de 1983, chegam ao país rapazes com uma visão e rituais diferente sobre o Al Corão que chocam com a maneira tradicional de viver o islamismo.

A nova visão de viver o islamismo começou com o afastamento dos antigos líderes religiosos que eram substituídos pela nova geração, alegadamente, porque tinham melhor instrução tanto académica como sob o ponto de vista teológico, que era verdade. Os novos líderes formam dezenas de equipas de futebol cujos treinos consistiam em marcha, placar e ordem unida, tipicamente, militar. Em nenhuma parte do mundo atletas de futebol treinam com paus às costas. Era de desconfiar.

O representante da Africa Muslim Agence, sudanês, declarava que os muçulmanos devem estar preparados para enfrentar, caso necessário, as autoridades. Estava tudo dito para quem quisesse ouvi-lo. Era uma declaração de guerra aberta.

Colhemos estas informações em Cabo Delgado e tivemos a sorte de não termos sido apanhados e considerado espião ao serviço de Al-Shabab ou de alguma potência estrangeira, como forma de justificar a incompetência do governo de combater a insurgência, prendendo e acusando, sem fundamentos, a jornalistas e empresários.

EDWIN HOUNNOU

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 31 de Janeiro de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO

Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Correio da manhã favor ligar para 21 305323 ou 21305326 ou 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz

Gratos pela prefêrncia

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *