Aquele tio da família

Poda a árvore, arruma os troncos e ramos num determinado canto para servirem de lenha e organiza o pessoal para a construção de alpendre no devido local”. Esse será o seu contributo na cerimónia familiar, assim disse o neto mais velho da família que morava numa das comunidades da aldeia.

Tio espertalhão, pelos vistos o mais velho dentre os membros daquela família, que em todas as contribuições não tinha o que tirar, alegando ser paupérrimo e com menos condições favoráveis para responder às adversidades traçadas durante a organização familiar.

Este somente apoiava em ideias, que, nas vésperas do casamento do seu irmão, após a reunião entre todos os membros da família em causa, lhe foi dada a tarefa de melhor atender às necessidades caseiras.

Como primeira medida, o Homem foi-se sentindo discriminado perante os madodas, quando ele fazia parte dos singalacates na família, tal que os empregadores, prestadores de serviços, senhorios e os demais precisavam de reconhecer que este nada tirava senão as palavras relacionadas com o conforto e condições familiares.

Na ocasião, levanta um dos filhos da casa alegando a necessidade de reconhecimento da acção do tio na qualidade de pai e conselheiro, mas que pouco participava em cultos religiosos e só dava duro em cerimónias de qualquer calibre, daí que os seus actos devem ser apoiados a todos os níveis.

Pelo seu acto, acatou os dizeres dos mais novos, frisando que “os tempos são outros, não se pode discutir com os que têm melhor conhecimento”, pois amanhã podem não responder ao seu pedido.

Com muita calma, foi articulando com os demais (amigos de infância e confiança), os que identificou para fazerem parte da sua equipa, pelos vistos, flexíveis que em menos tempo construíram dois alpendres, um para as mamanas confeccionarem diferentes pratos e outro para acomodar os noivos e convidados (tendo este último sido feito e ornamentado com material local, folhas de palmeiras, ramos de mafurreira, dentre outras plantas existentes nos arredores da casa), bem como troncos de coqueiro para servir de banco.

As esteiras eram estendidas em todo o chão em substituição do tapete. No lugar dos nubentes e padrinhos colocaram as capulanas para diferenciar com o local ocupado pelos demais convidados.

A música era tocada a ritmo dos batuques, apitos e timbila que em conjunto trazia uma harmonia agradável aos ouvidos dos convidados, mesmo da vizinhança não convidada por alegadamente falarem acima do normal, os que diziam “vamos ver se esta cerimónia vai mesmo acontecer”.

Do tradicionalismo não faltou a bebida alcoólica que, para o seu consumo, foi antes feita a reza e serventia aos defuntos, espíritos que asseguram o bem-estar daquela família, que, por coincidência, em frente deste ritual esteve o tio mais velho, aquele orientado para podar as árvores. Era mesmo polivalente na sua acção e fazia tudo com maior perfeição, afinal não havia estudado, mas teve ensinamentos na sua participação casa-a-casa durante a participação em diferentes acontecimentos, por isso lhe foi atribuído o nome de “mestre de cerimónia”.

Findo o acto, mesmo no balanço familiar, houve reconhecimento da empolgação do Homem, foi aplaudido inúmeras vezes, mas ele conscientemente teve maior atenção no seu pronunciamento: “não olhem para a idade, tirem proveito de nós, com ou sem escolaridade. Quando as coisas são articuladas em conformidade fazemos a diferença e quem sai reconhecido é a família e não a pessoa que esteve em frente”. O mais novo arrepiou-se com aquelas palavras, tendo, de imediato, pedido desculpa perante todo aquele aparato.

É sempre bom sermos cuidadosos, todos os membros de uma família ou sociedade no seu todo são valorizados, possuem estes conhecimentos e planos de acção que o estudado pode não conseguir decifrar, afinal andamos no mesmo planeta, mas da visão de cada um ninguém sabe qual o seu traçado.

Quem planta o bem colhe a mesma fruta e quem planta o mal deseja o mesmo acto ao próximo. “Façamos o bem a todos os níveis não para o seu reconhecimento, mas para melhor serventia à sociedade”.

CÉSAR NHALIGINGA

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 12 de Outubro de 2023, na rubrica de opinião.

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