As minhas reservas
As minhas reservas –Aprecio as boas intenções e algumas atitudes geralmente expressas e demostradas em público pelo Senhor Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, justamente desde que começou a fazer campanha eleitoral, durante a cerimónia de investidura e no âmbito do exercício das actuais funções. Quem, por exemplo, ouviu o chefe de Estado a falar esta quinta-feira em Honde (Báruè), em Manica, facilmente fica deslumbrado com o nível de eloquência que evidencia.
No entanto, várias vezes fico com algumas reservas – em alguns momentos comprovadamente justificadas –, relativamente a determinadas atitudes por ele (Presidente da República) tomadas ou que é suposto ser ele a tomar ou mandar executar e/ou a ele assacadas.
Sei muito bem que com esta minha opinião estou a circular em contra-mão, nesta auto-estrada de sentido único que muitos pretendem que seja uma espécie de quarto de celebração de lua-de-mel, onde reina plena cumplicidade e todos estão de acordo e predispostos a trocar elogios sobre tudo o que ali se passa.
Mesmo assim não deixarei de, no âmbito de meu direito como cidadão, exprimir as minhas reservas relativamente aos mais recentes desenvolvimentos políticos neste (também) meu Moçambique, justamente o conteúdo da nota conjunta saída esta quarta-feira da primeira reunião formal entre o chefe de Estado e o coordenador da Comissão Política da Renamo.
O conteúdo dos ditos entendimentos entre o presidente Nyusi e Ossufo Momade são, até, bonitos e até desejáveis mas pecam pela calendarização e a forma como os mesmos são negociados: condicionados, quase que impostos.
Aliás, pela forma eles são como muitas intenções vertidas na mais variada panóplia de documentos orientadores da vida em Moçambique, começando pela própria Constituição da República até aos mais diversos dispositivos legais. “A porca torce o rabo”, como sói dizer-se, na sua implementação efectiva.
Lamento não poder acreditar na eficácia da pressa na concretização de passos tão sensíveis como desarmamento, desmobilização e reintegração dos elementos armados da Renamo nos prazos naquela nota estabelecidos, só para citar alguns exemplos.
O que me espanta, nisto tudo, é o coro de hossanas que sempre se segue a qualquer passo que o Presidente da República dá, oriundas de supostos apoiantes, vire ele à direita, à esquerda, para cima ou para baixo.
O senhor Presidente não estranha esse tipo de postura? Acredita que dá sempre os passos imaculados?
Se não é “escovismo doentio”, provavelmente esses meus concidadãos agem imbuídos pelo espírito de recear ser vistos como “antipatriotas”, questionando algo, tendo em linha de conta de que já se atribuiu rótulos de “apóstolos da desgraça” e outros epítetos feios àqueles que que um dia ousaram questionar/duvidar de algumas decisões de um dirigente-mor neste país.
Sob todos os riscos, senhor Presidente, permita-me que expresse, aqui e agora, as minhas reservas quanto à exequibilidade sincera dos compromissos proclamados esta quarta-feira na cidade da Beira depois do seu encontro com o coordenador da Comissão Política da Renamo.
Me parece que ambos (FRELIMO/Governo e RENAMO) partem para um faz-de-contas que pode acabar mal, infelizmente com implicações para muitos dos que vivem em Moçambique, nacionais e expatriados, porque a pressa foi sempre inimiga da perfeição.
Gostaria, sinceramente, de estar equivocado, neste caso.
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 13 de Julho de 2018 na rubrica semanal TIKU 15!
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