Casamento de corrupção

Casamento de corrupção  – A União Africana celebrou o seu aniversário natalício esta semana. São 58 anos de uma organização baptizada com o nome de Organização da Unidade Africana (OUA) que mais tarde passou a chamar-se União Africana (UA), mas os ideais dos fundadores mantem-se: alcançar maior unidade e solidariedade entre países e povos de África, defender a soberania, integridade territorial e independência dos seus estados membros e acelerar a integração política e sócio-economica do continente.

Até aqui tudo bem, teoricamente. Mas, na pratica, África fracassou pelo menos até agora mostrar maior unidade e solidariedade.

Vamos por partes: na região da África Austral, da qual a minha aldeia faz parte, há guerra em Moçambique e na República Democrática do Congo. A organização continental não existe para defender as populações. Em Moçambique, mais de 700 mil pessoas estão afectadas.

Inventou-se a fórmula de que blocos regionais devem lidar com guerras na região em primeira mão.

Na África Central, há guerra na Somália e na República Centro Africana. A União Africana tem forças militares na Somália, mas a situação permanente sem solução.

Na África Ocidental, a Nigéria enfrenta sozinha terroristas de Boko Haram. No Mali e no Chade, luta-se contra terroristas. O Presidente chadiano acabou morrendo na frente de combate aos terroristas.

A lista é longa. O essencial que queria dizer é que África fracassou no seu objectivo de silenciar as armas em 2020 segundo preconiza a Agenda 2063 da União Africana. Um pouco por todas as regiões as armas continuam a matar gente inocente.

Na frente de corrupção, África também fracassou.

Em pleno dia 25 de Maio de 2021, dia de África, recebi um vídeo vindo de Angola no qual a televisão pública angolana reporta a apreensão de 10 milhões de dólares norte-americanos cash em casa de um cidadão angolano, uma frota de 15 viaturas de luxo, mais de 800 milhões de kwanzas, duas dezenas de relógios de luxo revestidos de diamantes e de ouro rosa, 45 apartamentos de luxo, cinco dos quais em Portugal. Fiquei arrepiado.

Em África o roubo de recursos públicos por pessoas ligadas ao poder político e económico tornou-se cultura.

Em Moçambique, o processo da extradição do Ministro das Finanças, Manuel Chang, tornou um assunto de risadas em quase todas as esquinas.

O governo moçambicano, através da Procuradoria-Geral da República gasta rios dinheiro solicitando a extradição de Manuel Chang detido na África do em 2018 a pedido dos Estados Unidos da América, na sequência de crédito de 2.2 mil milhões de dólares norte-americanos destinados a um projecto de pesca de Atum e da protecção da costa marítima.

Até à sua detenção, no aeroporto internacional OR Tambo em Joanesburgo a 29 de Dezembro de 2018, Manuel Chang era Sua Excelência Deputado da Assembleia da República em Moçambique.

O crédito que afundou Moçambique nunca chegou ao país.

Consta que o antigo governante terá beneficiado de sete a 12 milhões de dólares norte-americanos de subornos.

O casamento da corrupção com guerras em África dilapida recursos financeiros públicos e naturais eternizando a pobreza e doenças endémicas no continente africano.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo intitulado “Casamento de corrupção…” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 26 de Maio de 2021, na rubrica de opinião denominado O RANCOR DO POBRE

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