Chang: apagões na RSA

A África do Sul está mergulhada em apagões, de novo, desde segunda-feira desta semana, situação que pode afectar o reinício, esta sexta-feira, das audições do antigo ministro das Finanças de Moçambique e actual deputado, Manuel Chang, em Kempton Park, Joanesburgo.

O reinício das audições de Chang vai acontecer numa altura em que começam a emergir informações das primeiras detenções em Moçambique relacionadas com o dossier “dívidas ocultas”, apesar de se estar a falar de nomes menos sonantes.

A par das detenções, fala-se ainda de algumas confiscações de alguns bens desses indivíduos, que ocorrem um dia após o ministro da Justiça ter visitado algumas penitenciárias da capital.

A empresa estatal Eskom de geração, transmissão e distribuição da electricidade, enfrenta enormes dificuldades técnicas e de gestão acumuladas nos últimos anos.

A crise é considerada muito profunda em quase todos os sectores da economia sul-africana, incluindo unidades sanitárias que são forçadas a adiarem sine-die operações consideradas menos urgentes.

Por enquanto a solução a curto prazo é individual, ou seja, uso de geradores particulares, o que agrava os custos de produtos para os consumidores finais.

Jacques du Preez, gerente da cadeia de lojas de produtos electrónicos, reconhece o drama mas afirma que não tem outra solução, porque no final do mês paga a factura do gerador que alimenta o supermercado em Sandton, coração financeiro da África do Sul e considerada a região mais luxuosa e cara de todo o continente africano.

Mesmo com gerador, gestores de negócios em Sandton estão preocupados com o acesso por clientes porque os semáforos que regulam tráfego rodoviário não funcionam plenamente por causa de cortes sistemáticos de energia eléctrica.

A Eskom implementa desde Sábado as fases 2, 3 e 4 de restrições de fornecimento de energia eléctrica durante 13 horas por dia, ou seja, a partir das 8 ou 9 horas da manhã até às 22 ou 23 horas da noite.

Fase 2 significa poupar 2 mil Megawatts, da corrente eléctrica para evitar o colapso da rede nacional.

Subestação da ESKOM em Medupi
Subestação da ESKOM em Medupi

Aparentemente, poucos consumidores foram afectados pelas restrições da fase 2. Mas o pior não tardou chegar, apesar de desculpas apresentadas, pela direcção da Eskom que já admitia maior probabilidade de restrições no início da semana e aconteceu.

Muito cedo na segunda-feira, a Eskom comunicou que devido à continua pressão sobre a rede nacional a empresa ia activar a fase 4 de restrições, ou seja, precisava de poupar 4 mil megawatts da corrente eléctrica para salvar a rede, entre as 9 horas da manhã e 22 horas da noite. O caos das trevas instalou-se em vários sectores da economia mais industrializada no continente africano.

É a primeira vez nos últimos 10 anos que a Eskom implementa a fase 4.

Contabilistas estimam em dois mil milhões de rendes (cerca de 148 milhões de dólares norte-americanos) que a África do Sul perde em cada 13 horas por dia de cortes de energia eléctrica.

Os apagões distribuídos em zonas são atribuídos a avarias simultâneas de subestações devido à falta de manutenção adequada e de investimentos na rede.

O Presidente Cyril Ramaphosa recebeu a notícia dos sucessivos cortes de fornecimento de electricidade quando se encontrava em Addis-Abeba na cimeira da União Africana e disse que estava “chocado e perturbado” com a situação.

Há uma semana, Ramaphosa anunciara no parlamento a divisão da Eskom em três instituições distintas: geração, transmissão e distribuição para facilitar a gestão.

É que cortes sistemáticos de electricidade ameaçam o sucesso da iniciativa do presidente sul-africano de angariar 100 mil milhões de dólares norte-americanos nos próximos cinco anos para investimentos na economia.

O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial avisaram recentemente que a insegurança de energia eléctrica coloca grande risco para o crescimento da economia sul-africana.

Ao que tudo indica não há solução a curto prazo. A subestação de Medupi, movida a carvão e maior no hemisfério sul, ora na fase final de construção na província do Limpopo, que faz limite com Moçambique, tem graves problemas técnicos.

O porta-voz da Eskom lamenta dizendo que uma nova estação não devia registar avarias do mesmo nível como as outras mais antigas com 40 anos de actividade.

Para alguns analistas, a África do Sul está a pagar a factura da corrupção generalizada que se instalou comodamente em várias instituições públicas durante 9 anos do consulado governamental de Jacob Zuma.

Moçambique fornece desde a década de 1970 energia eléctrica da Hidoreléctrica de Cahora Bassa (HCB) à África do Sul, mas não é suficiente para as necessidades industriais do pais.

THANGANI WA TIYANI, CORRESPONDENTE NA ÁFRICA DO SUL

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *