Chirindza, Filha de ex-espião

Chirindza, Phiwe Bacar Jossias 36 anos de idade, está desesperada.

O pai dela sucumbiu em 1994, vítima de uma doença prolongada, sem que antes a tivesse apresentado aos familiares paternos, algures em Massinga, província de Inhambane, sul de Moçambique.

A Reportagem do Correio da manhã conversou com Phiwe na Thulani Lodge, em Melville, norte de Joanesburgo, onde trabalha como servente de limpeza há dois meses, em troca de dois mil randes (o equivalente a aproximadamente 8.660 meticais) de salário mensal.

Phiwe Chirindza ouviu de uma colega que andava pelas bandas de Melville alguém que escrevia para um jornal de Moçambique e no dia seguinte procurou contacto.

Identificou-se e rapidamente falou da sua longa história de sofrimento. Começou por alegar que o pai, de nome Bacar Jossias Chirindza, fora “egoísta”.

A mulher conta que o pai “teve muitos filhos, na região de KwaZulu-Natal, com diferentes mulheres”.

Com a mãe de Phiwe o moçambicano gerou sete filhos, mas nenhum dos filhos nem mulher conhece membro da família do finando em Massinga, que o marialva sempre referenciou como sendo sua terra natal em Moçambique.

De acordo com o vago e algo confuso relato de Phiwe, o pai foi detido por militares sul-africanos perto da zona de fronteira entre a África do Sul e Moçambique.

Bacar Jossias Chirindza ficou algum tempo sob custódia dos militares sul-africanos e quando foi posto em liberdade recusou regressar a Moçambique, seu país de origem.

“O meu pai foi transformado em espião militar das forças do apartheid”, disse Phiwe em inglês misturada com shangana, no meio de largos gestos.

A zeladora contou que o pai foi integrado nas fileiras dos militares sul-africanos, fazendo patrulhas na linha de fronteira entre os dois países.

Phiwe conta que dos dados que possui, o pai se terá envolvido com “pelo menos quatro mulheres sul-africanas” e teve “muitos filhos”, maior parte dos quais com sua mãe.

Chirindza, Phiwe Bacar Jossias, falando para o Correio da manhã em Joanesburgo

A filha de Bacar suspeita que terá sido no papel de garanhão que o pai contraiu o Vírus de Imunodeficiência Adquirida, vulgarmente conhecido por HIV, sigla inglesa do vírus que provoca SIDA às suas vítimas.

Bacar Chirindza “adoeceu por muito tempo” e acabou morrendo na África do Sul, deixando um número indeterminado de filhos “às escuras” sobre o paradeiro dos familiares paternos em Moçambique.

A filha – Phiwe –  acredita que a alma do pai, africano e moçambicano de gema, incomoda os filhos, afastando deles a sorte em tudo o que fazem para sobreviver, presumivelmente com os espíritos a exigir que procurem seus familiares paternos.

“Tudo o que fazemos não dá certo (…) não conseguimos emprego seguro (…) não temos dinheiro nem lares” – lamenta a mulher, num esforço indisfarçável para conter as lágrimas.

Enquanto isto a árvore genealógica de Bacar se vai internacionalizando: Phiwe revelou que tem dois gémeos fruto de uma relação insegura com um cidadão de eSwathini (como agora é designado o antigo Reino da Suazilândia).

Como que a sustentar a tese da falta de sorte por causa dos “espíritos do pai”, Phiwe lamentou que o namorado não lhe ajuda a sustentar os filhos e por isso procurou emprego no Thulani Lodge, mas considera que o salário e muito pouco para as despesas básicas.

A filha do falecido espião moçambicano deu contacto da mãe para acrescentar pormenores relacionados com o pai que ela afirma já não se lembra.

O jornal Correio da manhã telefonou para a mãe de Phiwe que vive em KwaZulu-Natal.

Aquela que em vida foi uma das esposas de Bacar Jossias Chirindza disse que o nome dela era Masinga e que não se lembra do ano em que se encontrou com o galante moçambicano.

Masinga não fala inglês e a conversa foi desenvolvida em shangana misturada com zulu.

Confirmou quase tudo o que a filha dissera, mas ilibou o seu falecido marido de egoísmo, considerando que na altura da guerra em Moçambique era difícil um militar sul-africano, a soldo do regime do apartheid, viajar para Moçambique.

Lamenta que o marido tenha morrido sem poder mostrar-lhe a família em Massinga e espera que o grito de socorro lançado através do jornal Correio da manhã possa ajudar localizar a família de Bacar Jossias Chirindza em Massinga, província de Inhambane.

Uma avaliação superficial pode dar a busca dos familiares e Phiwe algo irrealizável pelas bandas de Massinga, em Inhambane, a avaliar pelo apelido do finado pai – Chirindza – tendo em conta que este sobrenome tem maior ocorrência na província de Maputo, basicamente na região de Manhiça. Mas neste mundo tudo é possível e a fé sempre alimenta a esperança…

THANGANI WA TIYANI, CORRESPONDENTE NA ÁFRICA DO SUL

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição N° 5684, 30 de Outubro de 2019.

Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Correio da manhã favor ligar para 21 305323 ou 21305326 ou 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz

Também pode optar por pedir a edição do seu interesse através de uma mensagem via WhatsApp (84 3085360), enviando, primeiro, por mPesa, para esse mesmo número, 50 meticais.

Gratos pela preferência

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *