Combater desinformação e adoptar medidas baseadas na ciência

Combater desinformação – A transição de produtos combustíveis para os de risco reduzido no consumo de tabaco voltou a estar em debate, no primeiro dia do mês, em Nairobi, capital queniana. Combater a desinformação e tomar medidas baseadas na ciência foi uma das mensagens-chave daquele que foi o segundo intercâmbio sobre a redução de danos associados ao consumo de tabaco. No evento de um dia, jornalistas de vários países africanos estiveram num frente-à-frente com cientistas e especialistas de várias partes do mundo, que convergiram na necessidade da adopção de uma abordagem de redução de danos em estratégias de saúde pública e controle do tabaco.

Realizado sob o lema “Redução de danos: fazendo diferença em África”, o evento concentrou-se no progresso que está sendo feito por meio de estratégias de redução de danos em todas as áreas relacionadas à saúde pública, mas com destaque para o tabaco.

No intercâmbio foi discutida uma ampla gama de estratégias de redução de danos e iniciativas para reduzir mortes desnecessárias através de doenças não transmissíveis, tais como as causadas pelo fumo do tabaco.

As notas de abertura do evento foram feitas por Tendai Mhizha, da Integra África, que enfatizou o papel dos órgãos de comunicação social na aceleração da adopção de medidas de redução de danos.

“Tem havido muita desinformação em torno do tema da nicotina e a alegados efeitos negativos que os cigarros electrónicos têm na saúde pública. Isso levou a políticas que desfavorecem produtos de risco reduzido e a narrativas que negam completamente seus benefícios”, disse Tendai Mhizha, assinalando que “a media tem a difícil responsabilidade de conter o flagelo da desinformação sobre a redução de danos”.

Mhizha acrescentou que os jornalistas e meios de comunicação têm um papel central no combate à desinformação como forma de evitar mortes e doenças de pessoas que continuam a fumar. Vários outros intervenientes destacaram que os media têm um papel crítico a desempenhar na aceleração dos esforços de redução de danos, através da disponibilização de informação correcta e sensibilização dos fumantes sobre a disponibilidade e os benefícios de alternativas potencialmente menos nocivas que o cigarro.

No encontro, cientistas e especialistas de várias partes do mundo deixaram claro que as normas tradicionais de cessação e prevenção do tabagismo não são as únicas que os fumantes que não podem ou não querem parar de fumar podem usar. Hoje, e talvez mais do que nunca, os fumantes podem fazer escolhas mais saudáveis, com menos danos a si e aos que os rodeiam. Foram, no total, três painéis que discutiram pontos incontornáveis no debate sobre a redução de danos de tabaco, na perspectiva de África, um continente que ainda enfrenta enormes obstáculos para fazer a transição para um mundo sem fumo.

Manter mais africanos vivos

Abdoul Kassé
Abdoul Kassé

Abdoul Kassé, oncologista e Professor de Cirurgia no Instituto do Cancro do Senegal centrou a sua apresentação sobre como a redução de danos pode desempenhar um papel positivo na saúde pública. Descreveu a redução de danos como uma poderosa ferramenta de saúde pública que tem potencial para reduzir o cancro em 30%, pelo que deve estar no centro de todas as estratégias de desenvolvimento da saúde pública.

A redução de danos, disse, já beneficiou muita gente e é a alternativa mais viável no controlo do tabagismo, incluindo a redução de danos associados ao consumo do tabaco.

Kassé apontou que iniciativas de redução de risco, incluindo o uso de cigarros electrónicos e produtos de disponibilização de nicotina, continuam a gerar muitos mal-entendidos, tanto na comunidade de saúde pública, como nos media, referindo haver pessoas que não acreditam na redução de danos.

A este propósito, ele afirmou que há evidências de que o uso de alternativas potencialmente menos nocivas que o cigarro para quem não quer ou não consegue parar de fumar é um método que já provou ser uma solução, não necessariamente a melhor para todos, mas de longe melhor do que fumar continuamente.

“Onde deixar de fumar falha, mudar para produtos menos nocivos espera-se que resulte em benefícios para muitos fumantes”, disse Kassé, para quem “iniciativas inovadoras de redução de danos ajudarão a manter mais africanos vivos”. Para ele, num contexto em que muitos fumantes até desejam parar de fumar, mas apenas alguns o conseguem, há espaço para o uso de produtos de risco reduzido.

Kassé, um antigo fumante, reconhece que parar de fumar não é fácil, mas um processo longo e difícil. Mas não impossível. Na sua intervenção, também falou da acessibilidade dos produtos de risco reduzido, indicando que uma alta tributação dos novos produtos resulta no contrabando. Uma ideia partilhada por Joseph Magero que, também alertou sobre a presença cada vez maior destes produtos no mercado negro.

Jonathan Fell.
Jonathan Fell

Por sua vez, Jonathan Fell destacou que há muitas pessoas, incluindo em África, que não acreditam na segurança dos produtos de risco reduzido. Falou do uso do Snus, na Suíça, como exemplo de como um produto de risco reduzido está a substituir a fumaça e a trazer enormes benefícios para os fumantes e a saúde pública. Para Fell, as medidas a adoptar, nesta transição, incluem a disponibilização e acessibilidade dos produtos, disponibilização de informação correcta e criação de um ambiente que permita a inovação.

“A transição envolve ouvir as pessoas que fumam, ouvir o que eles querem”, disse.

Para Bernice Apondi, activista na área de políticas de drogas e direitos humanos, no Quénia, as tecnologias alternativas podem reduzir danos causados ​​pelo tabaco e acelerar a jornada para um mundo sem fumo, pois reduzem a exposição a produtos tóxicos. “A abordagem de redução de danos evita mortes relacionadas com drogas e mortes por overdose, e é a única saída para os viciados”, disse Apondi, da organização queniana Voz da Acção Comunitária e Liderança.

Bernice Apondi
Bernice Apondi

Dadas as vantagens das novas alternativas, ela não entende a prevalência de uma abordagem de criminalização de pessoas que estão a tentar salvar suas vidas. Mesmo assim, entende, leis penais não resolvem o problema e é por isso que o seu país está onde está: com alta prevalência da fumaça. “No Quénia, a maioria dos prisioneiros são jovens encontrados com drogas”, lamentou, referindo que punição conduz a abusos. Para ela, a prioridade devia ser outra: ter os jovens de volta à escola, ajudando a desenvolver o país.

Para Vivian Manyeki, também do Quénia, não há dúvidas de que o tabaco prejudica. Mas a redução de danos, referiu, tem uma base científica e médica sólida, e é muito promissora como um método de saúde pública para ajudar milhões de fumantes.

“Muitos fumantes não conseguem, ou pelo menos não querem parar de fumar. Eles continuam fumando, apesar do facto muito real e óbvio de consequências adversas para a saúde”, disse, defendendo a cessação de tabaco através de alternativas de redução de danos. (Combater desinformação)

PMI

https://bit.ly/3zwuAZU

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