Comida

A primeira demanda (Procura = P ou D) de um ser vivo, neste caso o Homem, segundos após ter sido parido, é COMIDA. Ele, chorando, pede por comida.

Esta procura por comida reivindicada pelo recém-nascido é-lhe satisfeita dando-lhe as sagradas tetas da progenitora, das quais, segundo os médicos, sai, primeiramente, um líquido espesso pluri-nutriente chamado colostro, com propriedades de saciar a fome do pequerrucho durante as primeiras horas pós-nascimento.

Portanto, a primeira confrontação do Homem para garantir a sua sobrevivência e independência do útero materno é a luta para ter comida.  

Os nossos pais, amiúde, repetiam que a “alegria vem da barriga”.

No amplo espectro de acções tendentes a libertar África do subdesenvolvimento que ainda a oprime, a produção de comida está inscrita como sendo uma das “principais tarefas prioritárias” a levar-se a bom termo.

O nosso saudoso compatriota o Professor Doutor Firmino Gabriel Mucavele, Professor da Faculdade de Agronomia da Universidade Eduardo Mondlane, destacado membro da AMECON – Associação Moçambicana de Economistas – e primeiro orador, a 13 de Dezembro de 2000, da série de palestras mensais realizadas por esta agremiação sócio-profissional, presidente do Conselho de Administração do NEPAD (New Partnership For Africa’s Development – Nova Parceria Para o Desenvolvimento de África), era arauto deste princípio vital, segundo o qual o Homem precisa, antes de tudo, de comer.

Naquela sua “aula palestrada”, ele começou por nos recordar que o nosso subdesenvolvimento era “o resultado da economia colonial e da guerra que deixou o país devastado e com infra-estruturas de produção destruídas. Os recursos humanos não estão suficientemente capacitados para desenvolverem políticas de desenvolvimento e implementarem as medidas de reajustamento estrutural necessárias para tornar os mercados eficientes. O pressuposto de que os mercados constituem o motor de desenvolvimento económico ainda não tem expressão em Moçambique” (in Firmino Gabriel Mucavele, Análise do Desenvolvimento em Moçambique no contexto da África Austral).

Na oportunidade, para enfatizar a importância da comida nas nossas vidas, ele recordou-nos que, após aquela palestra, uma das primeiras coisas que cada um faria ao sairmos dali era comer. Aliás, há um ditado moçambicano que diz “saco vazio não fica de pé”.

A Organização das Nações Unidas (ONU) determinou, através do documento intitulado Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que até 2030 – Objectivo 2 – no mundo inteiro dever-se-á “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”.

Trata-se de um objectivo realizável. África precisa de concretizá-lo. Oito pontos da Agenda 2063 adoptada pela União Africana constituem uma complementação continental das acima referidas ODS. 

No quadro das definições das suas políticas domésticas visando o seu desenvolvimento, urge que África aposte numa educação nacionalista e de bom conteúdo para a emancipação do seu povo. África terá de deixar de funcionar como caixas teleguiadas pelo mundo de fora da sua realidade. Sem negar os benefícios da globalização e da divisão internacional do trabalho, África terá de começar a ter orgulho de pensar por si própria. Basta de sermos bonecos telecomandados.

ANTÓNIO MATABELE *

*  Economista 

https://rb.gy/3w9z6

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal REDACTOR, na sua edição de 17 de Agosto de 2023, na rubrica denominada OPINIÃO

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