Cultivar a violência

Violência – Dos três aos 12 anos fui criado pelos meus avós maternos (ele com a 3.ª classe do ensino rudimentar – do tempo colonial – e ela sem nuncater-se sentado no banco da escola para uma aula). Sempre me educaram na base de um conjunto de provérbios e frases curtas, mas muito fortes em termos morais, que até hoje norteiam a minha conduta. Eram/são daquelas frases/ditados que muitos PHD, ufanos,de hoje, não os conhecem e/ou pura e simplesmente os pontapeiam.

Duas dessas frases:

Respeito não se exige. Conquista-se!

Os actos/atitudes falam (mintiru/swiyendlo ya/swa vula-vula)!

Vem este intróito a propósito da postura da maioria dos nossos (desgovernantes) do dia.

Consta que a nossa Constituição da República consagra o direito à liberdade de reunião e manifestação (Artigo n.º 51) e à greve (81).

Sucede, porém, que na prática, quem, sem estar a fazê-lo a favor do “partidão” ou do regime do dia, tentar usufruir destes dois dispositivos constitucionais, se arrisca a brutalidades e humilhações sem paralelo.

Para não falar política, que o digam os chamados “madgermanes” ou os trabalhadores da G4S (um velho mini-vídeo mostrando os solícitos agentes da FIR/UIR em acção,continua a fazer furar nas redes sociais), para a vergonha do moçambicano mais sensato.

Muito recentemente, meio milhar de trabalhadores da Empresa Municipal de Transporte Público de Maputo (EMTPM), sentindo-se lesados pelo patronato, pacificamente exigiram o respeito pelos seus direitos e a Direcção da companhia mais não fez senão requisitar os sempre disponíveis (quando para reprimir indefesos) elementos da polícia, incluindo os da unidade que num país normal apenas se fazem à rua em situações extraordinárias.

Pretenderão, com isto, estes (ir)responsáveis conquistar o respeito dos seus subordinados?

Estes cerca de 500 trabalhadores continuarão a nutrir o mesmo respeito/confiança que até sexta-feira (24 de Março/17) alimentavam pela Polícia e pelos membros da Direcção da EMTMP? (Já agora, multipliquemos 500X5), no mínimo.

A violência exercida sobre os trabalhadores da EMTPM era simplesmente evitável e desnecessária. De resto, porque eles estavam cobertos de razão, o patronato o reconheceu e a normalidade na empresa aparentemente regressou.

Porque será que em Moçambique tudo se resolve a tau-tau?

– Respeito não se exige (nem se impõe – acrescento eu). Conquista-se!

– Os actos/atitudes falam (mintiru/swiyendlo ya/swa vula-vula)!

De nada vale falar constantemente de paz e tolerância, quando na prática és um violento e arrogante, porque mais cedo ou mais tarde a máscara cairá no meio da rua.

Refinaldo Chilengue

 

Este texto foi publicado em primeira mão na edição do Correio da manhã (versão PDF) de sexta-feira (31/03/2017) na rubrica semanal TIKU 15

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *