DAG renova contrato
DAG renova por mais três meses – Enquanto figuras mais relevantes do regime de Maputo se remetem a um silêncio sepulcral em torno dos acontecimentos dramáticos em Cabo Delgado, fontes geralmente bem informadas afiançam que a empresa militar privada sul-africana Dyck Advisory Group (DAG) conseguiu mais uma renovação – a terceira – do seu contrato por mais três meses, por forma a prosseguir o seu apoio militar aéreo no sensível Teatro Operacional Norte (TON), em Moçambique.
O actual contrato da DAG expira oficialmente a seis de Abril deste 2021.
Em vésperas do término do contrato, Lionel Dyck, dono desta empresa contratada pelo governo moçambicano para a ripostar às investidas dos chamados “insurgentes” ou “terroristas” que actuam em Cabo Delgado, começou a lançar comentários muito questionados por alguns analistas da praça.
Numa recente entrevista Dyck comentou sobre a capacidade das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), insinuando que os equipamentos adquiridos recentemente pelo governo não são funcionais e/ou ainda não chegaram.
Como um mercenário por excelência, nessa entrevista Lionel Dyck tentou passar a deia de que caso os seus homens saiam de Cabo Delgado, a região vai se precipitar para o caos, irritando alguns sectores mais “nacionalistas” que rapidamente se insurgiram nas redes sociais.
A anunciada renovação do pacto com a DAG surge numa altura em que Cabo Delgado mergulhou numa verdadeira crise humanitária, como aproximadamente um milhão de deslocados internos e mais de dois mil mortos, resultante de sucessivas refregas militares entre as tropas do Governo e extremistas do Estado Islâmico.
Exemplo do drama
Gafuro Amade não tem comida que chegue em casa para quando acolher a família em fuga dos ataques terroristas de Palma e que espera ver em breve em Pemba, no Norte de Moçambique.
“Não tenho comida”, refere. “Se almoçar, jantar vai ser difícil” e vice-versa.
Na pequena casa de Mieze, arredores da capital provincial, onde vivem 12 pessoas, podem agora chegar mais 15.
Parte vai dormir “no quintal, com apoio de lonas”, refere, mas deixando o assunto para depois, porque para já quer saber se a família está viva e a caminho de Pemba em navios que estão a evacuar a zona e vão chegando à capital provincial.
Na sede da Cáritas há ‘kits’ compostos por bolachas e água à espera de indicações das autoridades para serem entregues a quem chegar, explica Betinha Ribeiro, membro da organização humanitária.
Segundo refere, a maioria das pessoas que até agora chegaram a Palma em embarcações, desde domingo, integravam os projectos de gás e aguarda-se a chegada da população que precisará de maior apoio, depois de passar dias sem comida, nem água.
O material já empilhado na sede da Cáritas dá para quase 2.000 pessoas, mostra Betinha Ribeiro.
Fonte da petrolífera Total disse que um navio vai transportar cerca de mil pessoas, população que está refugiada em Afungi, junto ao recinto do investimento, vai ser transportada num navio para Pemba, dando prioridade às pessoas mais debilitadas.
Na capital provincial as diferentes organizações humanitárias estão a mobilizar-se para acolher esta nova vaga de deslocados.
Gafuro Amade está desde domingo a caminho do porto de Pemba para saber de novidades, e promete não arredar pé, tal como fazem dezenas de outras pessoas que passam o dia ali à espera.
Francisco Jonas também não tem comida suficiente para a família que espera reencontrar, mais de 10 pessoas incontactáveis depois da fuga de Palma.
“Comer todos os dias? Com a comida que tenho? Isso depende de Deus”, refere, sem saber como reorganizar uma vida já sem recursos para ter farinha ou arroz.
“Ainda não tenho respostas, mas confio no Governo e no que vão organizar”, refere.
Alfan Cassamo explica que a covid-19 veio agravar a situação da província de Cabo Delgado.
A pandemia está a tirar comida da mesa porque “há menos emprego”, menos oportunidades numa terra onde já eram parcas e que apostava tudo na economia em redor da exploração de gás – que o ataque em Palma voltou a pôr em cheque.
“A comida fica cara, porque tens pouco dinheiro que te aguente durante mais tempo”, explica.
“Comida suficiente? Isso não posso garantir”, diz, mas uma coisa promete: partilhar o que tiver.
No início deste Março a DAG foi acusada pela Amnistia Internacional (AI) de prática de actos atentatórios aos direitos humanos, acusação à qual esta firma reagiu de forma enérgica, prometendo contratar advogados externos para investigar as suas actividades em Cabo Delgado
A contratação do DAG ocorreu num contexto em que Moçambique não aderiu ao Documento de Montreux sobre Obrigações Legais Internacionais Pertinentes e Boas Práticas Relacionadas com as Operações de Companhias Particulares Militares e de Segurança durante Conflito Armado para os Estados, uma iniciativa do Governo da Suíça e do Comité Internacional da Cruz Vermelha.
Aplicável nos Estados contratantes de empresas militares (como Moçambique) e nos Estados de origem (como África do Sul), o Documento de Montreux reafirma a obrigação dos Estados de assegurarem que as empresas militares privadas e de segurança que operam em conflitos armados cumpram com o Direito Internacional Humanitário e os direitos humanos. (DAG renova)
Redactor