Dos telefonemas à media

Dos telefonemas à media – Quando, na manhã do dia 19 deste Junho, li uma notícia aparentemente “simples” na página cinco da edição imprensa [Nº 15298] do Jornal de Angola (JA), fiquei com alguma interrogação. Mas, pelo sim ou pelo não, remeti o meu desconforto cá para os meus botões.

Sintomaticamente, no dia seguinte, um destacado quadro do partido Frelimo (primeiro vice-presidente do Parlamento, António Amélia) daria um briefing à media em Maputo, anunciando o adiamento, sine die, da sessão extraordinária da Assembleia da República que deveria arrancar no dia seguinte. Já cá estavam os deputados, com tudo pago, à custa dos impostos que nos custam dignidade, suor e até sangue, para nada.

O que se suspeitava veio a ser confirmado no dia seguinte pela chefe da bancada parlamentar do partido Frelimo, Margarida Talapa, em conferência de imprensa, prontamente respondida horas volvidas pela sua homóloga da Renamo, Ivone Soares. Passava-se, assim, do perfil negocial/contacto iniciado por Filipe Nyusi e o falecido Afonso Dhlakama (via telefone, com algumas romarias às matas por parte do chefe de Estado à mistura), modelo aparentemente continuado (por enquanto parcialmente – ainda não há relatos de visitas à Gorongosa) pelo sucessor do malogrado líder da “perdiz”, para um outro: via media.

De que o modelo de contacto entre as partes “beligerantes” – assumamo-lo – havia mudado veio a ser sublinhado no dia 25 de Junho deste 2018, quando, em plena Praça dos Heróis, na cidade de Maputo, o incumbente-mor recorreu à media para secundar a chefe da bancada do partido a que (também) preside na Assembleia da República (há quem suspeitasse que Talapa estaria a agir à revelia de Nyusi) para anunciar aquela “condição sine qua non”…

Dois dias volvidos, também via media, ficou-se a saber que o coordenador interino do Conselho Nacional da RENAMO, Ossufo Momade, respondia à declaração do presidente do partido Frelimo e da República: “é uma brincadeira”, apimentado com um “isso é chantagem” (…) “Nunca vamos entregar armas a um desconhecido”, etc., etc.

 

Voltando para a notícia do JA: reportava uma reunião de peritos da SADC que em Luanda, Angola, avaliava (desde segunda-feira – 18) as normas de observação de processos eleitorais nos países do bloco regional. A dado passo a notícia dizia justamente que “o encontro, que junta os altos funcionários do Comité Inter Estatal de Defesa e Segurança da SADC, procede ainda à avaliação dos preparativos dos processos eleitorais previstos para este ano no Zimbabwe (eleições presidenciais e legislativas), Reino de eSwatini (legislativas), Madagáscar (presidenciais e legislativas) e República Democrática do Congo (presidenciais, parlamentares e provinciais)”.

Portanto, sobre Moçambique, que é suposto ter eleições autárquicas em 10 de Outubro deste 2018, neste parágrafo e no resto do corpo da notícia, NADA CONSTA.

Consultei alguns diplomatas da SADC sobre o alcance desta omissão que, dentre outros argumentos, me disseram que os assuntos debatidos nestes ambientes são basicamente os suscitados pelos estados-membros, no âmbito da não ingerência nos assuntos domésticos de cada um.

Lá saberá a delegação de Moçambique porque motivo não levou o assunto das eleições de Outubro deste 2018 à pauta da agenda da reunião com os seus pares em Luanda …

Mas, seja lá como for, a avaliar pelos pronunciamentos dos protagonistas políticos de Moçambique, parece que, uma vez mais, indivíduos devidamente identificadas estão determinados em atirar os moçambicanos da frigideira para a fogueira, apenas com o único intuito: regalar-se com o seu sofrimento.

Não bastam as brutalidades decorrentes em Cabo Delgado?

Depois, quando estivermos no auge da amargura nacional, lançarão fingidos apelos à paz e às orações.

Será mesmo necessário? Merecemos isso tudo?

Irmãos! Nada ingenuidade e/ou precipitações. Os problemas existem, é verdade, seus causadores são conhecidos (pelo menos para os maiores de 40 anos de idade poucas dúvidas sobre isso existem), mas certas formas para a sua resolução a tal não ajudam.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 29 de Junho de 2018 na rubrica semanal    TIKU 15!

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