Episódio mal contado
Episódio mal contado – Há um episódio que está mal contado nas páginas 532 e 533 das Memórias de Francisco Pinto Balsemão.
Afirma que durante uma recepção oferecida pelo Presidente [da República de Portugal, Ramalho] Eanes no Hotel Polana, em Maputo, no fim de Novembro de 1981, Samora Machel “incluiu no seu discurso afirmações desprimorosas e até insultuosas para Portugal”, perante a impassibilidade da comitiva lusitana. E que o único que não aplaudiu foi o ministro dos Negócios Estrangeiros, André Gonçalves Pereira, que ficou prestes a regressar quanto antes a Lisboa.
Ora acontece que eu participei nesse banquete (não propriamente uma recepção), pelo que posso dizer que as afirmações não foram dirigidas a Portugal, no seu todo, mas muito especificamente, e de uma forma racista, a André Gonçalves Pereira, que durante anos fizera parte de uma comissão jurídica das Nações Unidas.
“Em Moçambique temos um ditado que diz que se tiveres de escolher entre uma serpente e um monhé, salva a serpente”, creio que foi isto o que Samora Machel afirmou; e que tanto ofendeu André Gonçalves Pereira, filho de um goês e de uma francesa.
Foi uma noite e uma madrugada de grande agitação, só os bons ofícios do ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros, Joaquim Chissano, do conselheiro presidencial moçambicano Aquino de Bragança, e do presidente da Gulbenkian, Vítor Sá Machado, tendo conseguido resolver a questão.
Samora reconheceu que se excedera, ao achincalhar os juristas portugueses, muito em especial aquele, por oposição aos militares, como Eanes, que tanto enalteceu; e lá se evitou que André Gonçalves Pereira abandonasse a comitiva e apressasse o seu regresso a Lisboa. (Episódio mal contado)
JORGE HEITOR *
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Em Moçambique temos um ditado que diz que se tiveres de escolher entre uma serpente e um monhé salva a serpente
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O texto foi extraído da conta do autor no Facebook
* * JORGE HEITOR foi o primeiro correspondente da Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP) em Moçambique, onde desembarcou a partir de 11 de Outubro de 1978, órgão que, após a fusão desta com a Agência Notícias de Portugal (NP), deu lugar à actual agência LUSA, oficialmente criada em 12 de Dezembro de 1986.
Este artigo foi publicado intitulado “Episódio mal contado em livro, sobre Moçambique” foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 08 de Outubro de 2021, na rubrica OPINIÃO.
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