Época do turismo desastroso

Chegou, uma vez mais, a época do turismo desastroso, oportunidade para muitos (i)responsáveis (des)governamentais se fazerem à rua, em extensas comitivas, com a devida “cobertura jornalística” dos sempre solícitos e disponíveis “pés-de-microfone”, para visitar os “vulneráveis”.

É que, nesta pátria desgovernada, parece existirem indivíduos que acreditam que governar é mesmo fazer visitas e se a visita for para um local onde tem gente em sofrimento e desesperada [resultante de acidentes ou intempéries naturais] melhor para eles.

Depois proferem aqueles improvisos de solidariedade simulada que em nada ajuda a quem quase tudo perdeu e apenas lhe resta a própria vida e o que cobre o corpo, exercício apenas para chinês ver.

Assim é tratada a maioria das pessoas afectadas pelas intempéries em Moçambique

Todo o mundo sabe que o período das intempéries em Moçambique é entre Outubro de um ano e Abril do seguinte e, nas vésperas, os que são pagos ─ e como pagos ─ supostamente para acudir aos sinistrados de sempre alegam ter “tudo a postos”, mas, quando a tragédia chega, nem eles [suas instalações] escapam.

Espantosamente, este ano ainda não vimos o desfile daqueles turistas mais folgados, a apreciar o panorama a partir de lá de cima…, numa aeronave devidamente climatizada e até aromatizada.

E, porque é mesmo turismo, nem se coíbem de sacar umas fotos e fazer uns vídeos para postarem nas redes sociais e para a posteridade. Quem ainda não viu?

Todos os anos visitar os mesmos locais para ver as mesmas caras e o mesmo drama não nos parece ser a melhor forma de governar.

Julgamos nós que a solução é regular as construções e construir valas de drenagem onde se mostrar necessário. Isso é da responsabilidade de governos sérios e não do cidadão que apenas pretende ter o seu abrigo e nem sempre está informado sobre os locais adequados para tal ou não.

É sabido que o passo seguinte será o “tou pidir”, alegadamente para resolver o problema das vítimas das intempéries, problemas esses que já estão a ser resolvidos por meios próprios dos sinistrados.

E os ganhos desse “tou pidir” terão o destino habitual. E a vida continua, até à próxima perturbação atmosférica.

Estou a falar só!

A MINTHIRU IVULA VULA KUTLHULA MARITO! Os actos valem mais que as palavras! Digo/escrevo isto porque ainda creio que, como em anteriores desafios, Moçambique triunfará e permanecerá, eternamente.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 27 de Março de 2024, na rubrica TIKU 15.

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