Escola universal da vida

Escola universal da vida – Já tenho mais de meio século de vida e acho que não vou viver igual tempo no futuro.

Mais de meio século de vida não é muito tempo para pessoas do primeiro mundo, mas na minha aldeia de infância a esperança de vida é reduzida, pelo que ter mais de 50 anos é bênção de Deus.

Em mais de 50 anos de vida vi muitas coisas boas e más na minha aldeia de infância e de residência permanente.

Quando passei a viver na África do Sul, em meados da década de 1990 a vida era mais ou menos organizada nos principais centros urbanos. Quase todos os residentes respeitavam-se.

À noite, ninguém fazia barulho com música incomodando seus vizinhos e passar impune. A Polícia respondia com alguma urgência a chamadas de residentes aflitos com situações de perturbação da ordem pública. Era estritamente proibido matar animais, incluindo aves ou galinhas, em apartamentos residenciais.

Havia alguma disciplina e respeito. Porém, nos últimos 25 anos a euforia da democracia alterou a ordem das coisas.

Pessoas passaram a comer onde deviam cagar e a urinar onde deviam beber – numa explícita confirmação do último discurso de Gungunyane, feito a caminho dos Açores, na sequência da sua captura por portugueses reportado pelo escritor moçambicano Ungulani va ka Khosa, no seu emblemático livro Ualalapi.

Os valores sociais estão em degradação acelerada em quase todo o mundo, particularmente em África e sobretudo na minha aldeia onde a democracia importada dos Estados Unidos da América ou da Europa Ocidental confunde-se com libertinagem ou anarquia na sociedade que em algum tempo esteve melhor organizada.

O cumprimento das medidas de confinamento obrigatório contra coronavírus enfrenta resistência.

Algumas pessoas usam maliciosamente a pobreza como escudo para violar restrições de movimento e reuniões e outras exigem a abertura de bares ou lojas de bebidas alcoólicas.

Na terra da minha aldeia dirigentes políticos violam impunemente as medidas de restrições de reuniões constantes do estado de emergência reunindo seus militantes com direito a cobertura televisiva. Mas agentes a Polícia prenderam pastores apanhados a rezar com seus seguidores no cume de uma montanha, acusando-lhes de violação das medidas de prevenção de propagação de coronavírus, inimigo invisível que matou mais de 70 mil pessoas em mais de 170 países.

A vida não tem rascunho, mas é uma escola universal na qual as pessoas aprendem sem professores com formação em instituições académicas. Umas passam com distinção e outras chumbam vergonhosamente e depois são condenadas à revelia por tribunais de opinião pública.

Dirigentes na terra da minha aldeia somam notas negativas na escola universal da vida nos últimos anos e foram sumariamente condenados por tribunais de opinião pública.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 22 de Abril de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE

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