Estudantes contra “refresco”
Algumas dezenas de estudantes marcharam hoje, em Luanda, para contestar a chamada “gasosa” escolar, cobranças ilícitas feitas nas escolas durante o período de inscrições e matrículas, apelando às autoridades no sentido de travarem a onda de corrupção.
Na marcha de hoje, “contra a gasosa escolar”, que teve como ponto de partida no largo do cemitério da Santa Ana, em Luanda, os estudantes participaram trajados, na sua maioria de bata branca, manifestando ainda o descontentamento com a falta de vagas e salas de aula.
“Também sou cidadão, quero educação, abaixo a gasosa” ou “Queremos estudar, queremos sal na gasosa”, eram algumas palavras de ordem inscritas nos cartazes que exibiram durante o percurso no centro de Luanda, que chegou a levar à presença, no local, de agentes da polícia.
“Somos angolanos e todos merecemos a educação, mas na prática vê-se que apenas uma minoria tem acesso”, contou à Lusa o estudante Cristo Diampanga, que participou na marcha de hoje.
Recorda mesmo a legislação angolana, que consagra o acesso gratuito ao ensino geral, este estudante de 26 anos faz alusão sobre a gratuitidade do acesso ao ensino: “A educação em Angola é grátis, e aliás o Presidente da República fez menção a tal facto, mas hoje vê-se tantas escolas a cobrarem, algumas escolas exigem que se pague algum valor, outras até simularam o cenário grátis, mas apenas durou um dia”.
Quem também se juntou à marcha de hoje foi o estudante Graciano Domingos, de 22 anos, afirmando estar solidário com “milhares de jovens que pelo país estão fora do sistema de ensino”, recordando que “muitas localidades continuam sem escolas”.
“Nós queremos ajudar o Governo a acabar com essa prática da gasosa, não estamos aqui para fazer confusão ou tentar qualquer perturbação, queremos apelar apenas ao Governo, porque a gasosa está a mutilar a juventude, que é a força motriz da sociedade”, sublinhou.
Segundo o jovem estudante, “não se aprende nada pagando gasosa”.
“Estou igualmente a marchar para todos que vivem em locais onde não há escolas (…) Depois de terminarmos a marcha vamos fazer um abaixo-assinado com a pretensão de se enquadrar todos que estão fora do ensino”, rematou.
Já o estudante Simão Paulo Raimundo, de 23 anos, referiu que em Angola “há muita precariedade no acesso ao ensino”, daí o fundamento de fazer parte deste protesto contra as “cobranças ilegais”.
“O que me trouxe aqui é saber que o ensino é um direito fundamental e universal e de acesso a todos. No nosso país há muita precariedade no acesso ao ensino, então estou comovido e sinto a dor e estou aqui a participar para que o Governo nos oiça”, disse.
Acrescenta que o fenómeno da “gasosa” na escola “é um crime que vem a dizimar milhões nos cofres dos encarregados de educação”.
“E muitas vezes quando o encarregado denuncia, o aluno é coagido”, adiantou.
Por sua vez, o porta-voz da organização da marcha de hoje, Donito Carlos, reiterou os propósitos do protesto, afirmando que o “fenómeno gasosa escolar” tem estado a “assolar a sociedade angolana”.
“É a chamada gasosa, nome vulgar que se deu a esse tipo de corrupção ativa que ocorre nas escolas e nós estamos aqui para chamar a atenção aos encarregados de educação, as escolas que usam terceiros nessas cobranças, que vamos continuar a denunciar e repudiar”, realçou.
Redacção & Lusa