Fátima firme na luta

A jornalista e activista moçambicana, Fátima Mimbire, que foi alvo de ameaças cibernéticas, presumivelmente protagonizadas por uma deputada da bancada parlamentar do partido governamental, a Frelimo, disse que tais ataques “são um combustível” para animar os seus ideais e determinação.

“Vou prosseguir a minha luta. Estas ameaças mais do que constituírem um elemento intimidatório ou de persuasão para eu recuar, elas me dão forças acrescidas para avançar. É combustível para prosseguir, porque evidenciam que o que faço tem impacto na sociedade”, disse Fátima Mimbire, em conferência de imprensa esta quinta-feira em Maputo

Falando na sede do Centro de Integridade Pública (CIP), para o qual trabalha, Fátima Mimbire exortou a “todos os que por ventura sofreram ou sofrem ameaças para não se deixar intimidar e continuar a defender os seus ideais”

Mesmo assim, a activista e jornalista admite que as ameaças a deixaram “triste e frustrada” por perceber que “afinal de contas vivemos numa sociedade de bastante intolerância”.

“De certa forma este discurso é dirigido a todas as mulheres e meninas que foram violadas sexualmente, no sentido de dizer que elas mereceram ser violadas porque era preciso corrigir comportamentos que se achavam desviantes”, avaliou.

Fátima Mimbire entende que é preciso que haja uma acção enérgica das autoridades perante este tipo de ameaças, “porque as violações sexuais tem sido os crimes que mais tem ocupado” a polícia, a Procuradoria Geral da República e os serviços de saúde.

 

Exigido afastamento de Alice Tomás

Edson Cortês, director do CIP, um dos que acompanhavam Mimbire na conferência de imprensa, deu a conhecer que a instituição que dirige accionou esta quarta-feira um processo-crime contra a deputada que ameaçou a jornalista e activista.

A acusação do CIP é de que a deputada Alice Tomás teria sugerido, numa rede social, que Fátima Mimbire deve ser violada sexualmente por pelo menos “10 homens fortes e cheios de energia” por ter defendido que o falecido líder da RENAMO, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, devia ser proclamado herói nacional.

Cortês deu a conhecer que o processo contra a deputada Alice Tomás é o segundo accionado pelo CIP contra um cidadão que se diz ser membro do partido FRELIMO, justamente por ameaçar nas redes sociais a mesma pessoa: Fátima Mimbire.

O director do CIP revelou que o primeiro a ser processado é o cidadão Julião Júlio Cumbana, que em Janeiro deste 2019 teria dito que é com “muita pena que em Moçambique não se levam também mulheres para o Chihango”.

Chihango é um bairro periférico da cidade de Maputo de má memória por ser o local para onde são levados muitos dos cidadãos raptados pelos “esquadrões da morte” para ser seviciados, torturados e assassinatos.

De acordo com Cortês, Cumbana escreveu numa rede social ter chegado o momento para, também, se levar mulheres para Chihango, numa reacção a uma das intervenções públicas de Fátima Mimbire.

O director do CIP lamentou o facto de até hoje haver poucos progressos em torno do processo remetido contra Cumbana. “Apenas recebemos por parte da PGR a notificação de que receberam a acusação e de lá a esta parte nada mais aconteceu”.

Para o CIP, não basta a condenação e o distanciamento do partido Frelimo em relação aos pronunciamentos da deputada Alice Tomás, “porque se trata de uma organização com responsabilidades governamentais em Moçambique desde a independência”.

“Exigimos que perante o grave pronunciamento desta deputada Alice Tomás o partido Frelimo deve accionar mecanismos para a sua suspensão na Assembleia da República, para que ela perca o mandato, porque é indigna para representar o povo”, argumentou Edson Cortês.

Redacção

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