Ferozes refregas nas matas de Mucojo/Macomia
Ferozes refregas opondo insurgentes islamitas e tropas aliadas do Governo de Moçambique do Ruanda foram reportados por camponeses que trabalham nas matas de Macomia, província nortenha moçambicana de Cabo Delgado.
Por seu turno, os jihadistas alegam que os combates se estendem a zonas de Mocimboa da Praia, com danos para as partes em presença no terreno.
Segundo as fontes, as refregas entre a missão militar coligada e os insurgentes acontecem há três dias, nas matas do posto administrativo de Mucojo, a 40 quilómetros da sede distrital, com intervenção de meios aéreos, designadamente dois helicópteros.
Nas referidas operações as tropas do Governo moçambicano e aliados ruandeses estão ainda a empregues meios pesados, incluindo blindados e homens armados, com relatos de tiroteios em locais considerados como esconderijos destes grupos.
Os próprios insurgentes emitiram comunicados separados referindo que as tropas governamentais estão a recorrer, também a meios navais que “tentam avançar em direcção às posições dos mujahideen, na aldeia de Karamezi na região de Macomia”.
Através dos seus habituais meios de propaganda, os terroristas dão conta, ainda, de combates em torno da zona de Daruba, também em Macomia, alegando terem “afugentado” os integrantes do “exército cruzado”, numa aparente alusão às tropas estatais.
Usando os seus habituais veículos noticiosos, os jihadistas reclamam confrontos com patrulhas das forças governamentais e ruandesas ao longo da estrada entre as aldeias de Mbau e Limala, em Mocimboa da Praia.
“Começámos a ouvir de forma intensiva há três dias (…), até nos assustamos porque só se ouve fogo”, relatou uma fonte a partir de Macomia.
Um camponês de Macomia acrescentou que estes confrontos precipitaram a saída de alguns camponeses por medo, devido à intensidade dos bombardeamentos, sobretudo por acontecerem próximo às zonas agrícolas de Namigure e Nambine, onde alguns realizam actividades como desbravamento de matas, preparando a próxima época agrícola.
“Como ficar onde o fogo não cessa, só na estrada de Mucojo. Só se vê blindados, carros de militares a passarem, ruandeses e os nossos”, disse ainda.
Não há relatos de vítimas entre as partes, mas a população camponesa admite a progressão no terreno das forças militares de Moçambique e do Ruanda.
“Faz tempo que não víamos algo assim, os carros estão a passar toda hora para lá, em Mucojo, os blindados também. Se temos medo é porque é guerra, se não, por engano, alguém morre”, disse a fonte, que trabalha um campo agrícola em Nambine.
Cabo Delgado enfrenta desde Outubro de 2017 uma insurreição armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
O último grande ataque deu-se em 10 e 11 de Maio à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.
A população de outros distritos da província tem relatado a movimentação destes grupos de insurgentes, que provocam o pânico à sua passagem, nas matas, mas sem registo de confrontos, o que acontece numa altura em que os camponeses tentam realizar trabalhos de colheita nos campos de cultivo.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, afirmou em 16 de junho que a ação das várias forças de defesa permitiu acabar com “praticamente todas” as bases dos grupos terroristas que operam em Cabo Delgado.
“O resultado dessa conjugação de forças é surpreendente. Conseguiram desativar os terroristas de todas as vilas e aldeias que haviam sido ocupadas, destruíram praticamente todas as bases fixas do inimigo, tornando-os nómadas, e colocaram fora de combate muitos extremistas violentos, incluindo alguns dos seus principais dirigentes”, disse Nyusi, em Mueda, província de Cabo Delgado.
O chefe de Estado reconheceu o esforço das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, em conjunto com os militares do Ruanda, da missão dos países da África austral – que concluiu a retirada total em 04 de julho – e da Força Local, constituída por antigos combatentes da luta de libertação nacional, no combate a estes grupos nos últimos seis anos.
“Andam aí no mato, mas já não ficam num sítio porque têm medo de ser encontrados”, disse ainda, renovando o apelo à população “para continuar a reforçar a vigilância”.
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