Fofoqueiro inviabiliza refresco

Fofoqueiro: Moçambique e África do Sul actualizaram semana passada em Maputo o acordo sobre transportes aéreos, terrestres e marítimos. O acordo cobre várias áreas, incluindo a segurança rodoviária, mas carece de pormenores sobre medidas concretas que vão ser tomadas para garantir a segurança dos utentes. As estradas sul-africanas são consideradas autênticos matadouros de seres humanos. Cerca de 45 pessoas morrem, em média, por dia, nas estradas sul-africanas, vítimas de acidentes de viação.

As companhias aéreas de bandeira da África do Sul e de Moçambique monopolizam a rota ligando os dois países vizinhos com preços fora do alcance do cidadão comum funcionário do Estado ou vendedor ambulante.

O transporte ferroviário de passageiros deixou de ligar os dois países, alegadamente por questões de controlo da migração. Então, as pessoas ficaram com única opção: transportes rodoviários, apesar do risco de segurança.

O Rancor do Pobre testemunhou semana passada uma situação arrepiante na báscula de Pessene, distrito da Moamba, província de Maputo. Um autocarro da Translux, proveniente de Joanesburgo para Maputo, contornou uma fila de camiões e autocarros que iam passar pela balança de controlo de carga. O autocarro em referência contornou a fila circulando na faixa contrária numa secção da estrada com barreiras de betão nas bermas contra outros carros, incluindo camiões. Eish… eish… foi terrível.

Agentes da Polícia estacionados no recinto da báscula perseguiram e mandaram parar o autocarro. O motorista, por sinal de nacionalidade sul-africana, saiu e foi ter com eles sem remorsos. Um dos agentes entrou no autocarro e gritou para os coitados passageiros questionando o seu silêncio perante uma grosseira e perigosa violação do Código de Estrada.

Um dos passageiros disse que ninguém percebeu a manobra do motorista na zona da báscula.

Os agentes ordenaram o motorista a regressar para a fila e passar pela báscula. O motorista insistia que deviam deixar-lhe andar e pagar “refresco” aos dois agentes da Lei e Ordem. Os agentes recusaram-se dizendo que no autocarro tinham visto um “grande fofoqueiro”, referindo-se a um jornalista moçambicano que estava entre os passageiros. A hospedeira confirmou que sempre foi assim, mas naquele dia os agentes estavam a gingar por causa do jornalista que estava no autocarro.

Se não fosse a presença do jornalista a grave infracção passaria sem registo. Mesmo depois de regressar e cumprir a fila, o motorista não foi repreendido pelos agentes da Polícia. Em condições normais, teria sido imediatamente detido, dada a gravidade da infracção. Autocarros da Translux, empresa subsidiária do estado sul-africano, são relativamente baratos, mas muito perigosos na estrada. Fiquei a saber que são basicamente usados por importadores informais – mukheristas – que fazem o contrabando de mercadorias da África do Sul para Moçambique sem pagar direitos aduaneiros.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF  do jornal Correio da manhã do dia 30 de Agosto de 2017, na rubrica seminal

O RANCOR DO POBRE

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