Frelimo não joga limpo
Apesar de, formalmente, Moçambique ter, também, abraçado, em 1994, o sistema democrático e multipartidário, na prática tudo continua na mesma. A Frelimo não podia continuar a manter o país sob as suas garras, pois, ela corria o risco de se afundar e de se desintegrar por falta de um suporte militar e económico para aguentar com a guerra. A introdução do sistema que reconhece a existência de vários partidos se deve ao aperto da guerra movida pela Renamo e as condições internacionais haviam se tornado desfavoráveis e não foi por vontade política dos “visionários” da Frelimo, como se pretende transmitir, em alguns corredores políticos. Não se pode contar a anedota de que adoptaram o sistema multipartidário de espontânea vontade quando o país se encontrava, totalmente, paralisado.
A verdade manda dizer que a Frelimo não mudou a essência do seu modus operandi – vai de mal a pior. A discriminação, na administração pública, com base nas cores políticas da pessoa está em alta. O abocanhamento das instituições do Estado em nada ficou alterado. Tudo continua como dantes. A Frelimo ditadora, assassina de ontem e de hoje. A Frelimo que criou G40 para intoxicar mentes é a mesma que criou os esquadrões da morte para matar a quem dela se opõe e joga os corpos dos seus inimigos para vala comum. É a mesma Frelimo que disse que aqueles que fugiram para o Malawi, à procura de segurança, são da Renamo e não se trata de moçambicanos iguais a eles. Os membros da Renamo não são moçambicanos?
A polícia obedece às ordens da Frelimo. O sistema judicial funciona de acordo com os interesses dos dirigentes do partido governamental. Os órgãos eleitorais – STAE (Secretariado Técnico de Administração Eleitoral), CNE (Comissão Nacional de Eleições), Conselho Constitucional e os demais tribunais – defendem, com unhas e garras, a Frelimo que continue no poder. Podem ensaiar uma ou duas manobras para distrair atenções do público, todavia, ao fim do dia é a Frelimo que conta. Falar de separação de poderes, no país, é uma utopia. É tentar curar uma doença sem atacar a sua causa primeira e a causa primeira de todas as doenças que apoquentam o povo moçambicano tem um nome: Frelimo que se pretende eterna no poder, votada ou não. Em nenhum momento a Frelimo precisou, de facto, de qualquer eleição para continuar no poder. Ela precisa da polícia, dos órgãos eleitorais, do Conselho Constitucional e dos tribunais. É tudo.
A FIR (Força de Intervenção Rápida) e o SISE (Serviço de Informação e Segurança do Estado) tomam conta de quem se atrever mostrar resistência. O STAE e a CNE encarregam-se de desenhar e assegurar os contornos de uma vitória retumbante, convincente e asfixiante e o Conselho Constitucional encarrega-se de proclamar e legalizar as fraudes que intoxicam o nosso desenvolvimento socioeconômico e político. Os tribunais distritais estão investidos de poderes bastantes para julgar improcedentes as reclamações dos adversários daqueles que passeiam pelas instituições internacionais de finanças para colectarem dinheiro para eles, cujas dívidas são atiradas para as costas do povo a quem, impiedosamente, pilham, oprimem e roubam.
É dentro deste contexto que devem ser interpretadas as palavras de Filipe Nyusi, presidente do partido Frelimo quando disse que, recitamos de memória, “os inimigos de ontem e de hoje querem nos afastar do poder como jogam fora fraldas descartáveis”. Repisou que “não vamos permitir que isso aconteça”. Se essa recusa fosse baseada na vontade popular, não contestaríamos. Porém, detestamo-la, com veemência, por ser fundamentada em fraudes eleitorais, na violência policial e nos truques do STAE, CNE, Conselho Constitucional e na esperteza. Essa recusa não procede. A Frelimo nunca jogou limpo desde 1994.
EDWIN HOUNNOU
Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 09 de Maio de 2019, na rubrica semanal denominada MIRADOURO
Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Correio da manhã favor ligar para 21 305323 ou 21305326 ou 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz
Também pode optar por pedir a edição do seu interesse através de uma mensagem via WhatsApp (84 3085360), enviando, primeiro, por mPesa, para esse mesmo número, 50 meticais.
Gratos pela preferência