Geração G4 da corrupção

Geração – A corrupção está em evolução geracional na África do Sul e em Moçambique, dois países que conheço melhor, por motivos de residência permanente de 20 anos e infância há 55 anos, respectivamente.

Discursos de dirigentes políticos sul-africanos dizem que o regime do apartheid era político e economicamente corrupto.

Politicamente, o regime negava direitos iguais à maioria negra.

As decisões da vida política do país eram tomadas pela minoria branca, a partir de leis raciais que favoreciam brancos.

Recursos económicos eram usados para desenvolver a comunidade da minoria branca em detrimento da maioria negra do país. Negros e alguns brancos concordam com a narrativa.

Entretanto, economicamente, analistas divergem sobre a alegada existência de corrupção generalizada no tempo do apartheid, argumentando que a África do Sul se tornou economia mais industrializada em África durante a vigência do apartheid, no meio de sanções económicas internacionais.

Foram construídas melhores infraestruturas socioeconómicas de África, que incluem estradas, edifícios universitários e muitas outras instituições públicas poderosas como a Corporação de Radiodifusão, a SABC, linhas áreas SAA (Correio da manhãNº 5904, págs. 1 e 2), aeroportos, empresa de geração, transmissão e distribuição de eletricidade ESKOM.

Em 1994, o regime do apartheid caiu após vários anos de luta que custou muitas vidas humanas dentro e fora do país.

O novo governo democrático herdou infraestruturas e instituições fortes, mas depois começou a corrida desenfreada de acumulação de riqueza através de pilhagem de recursos públicos nas instituições. Serviços públicos passaram a ser condicionados e vendidos à porta traseira. O acesso às casas de distribuição gratuita do projecto RDP (Reconstrution and Development Programm) concebido pelo governo de Nelson Mandela para população marginalizada pelo apartheid envolveu esquemas corruptos. Pobres sem abrigo tinham de pagar suborno para terem acesso a tecto condigno. Era o início da primeira geração ou G-1 da corrupção na nova África do Sul democrática.

O mal evoluiu para a fase dois ou segunda geração de corrupção em que servidores públicos montaram redes de contactos para fornecer serviços públicos em provado a necessitados.

A geração três ou G-3 da corrupção instalou-se com servidores públicos que criaram empresas para ganhar concursos milionários nas empresas públicas que dirigem ou trabalham.

Servidores autoatribuem contratos de serviços para pilhar recursos nas instituições. A vigência da fase G-3 da corrupção destruiu instituições montadas no tempo do apartheid, que incluem SABC, ESKOM e SAA, só para citar algumas tecnicamente falidas.

Moçambique segue a mesma trajetória da evolução de corrupção.  A Mcel, LAM e muitas outras foram sugadas até à falência técnica.

A fase G-4 entrou em acção usando a deixa da G-3.

Enquanto escrevia esta crónica, um trabalhador de uma empresa privada telefonou para mim solicitando conversa aparte sobre a montagem de vidro para-brisa de carro, na sequência do contacto que tivera no início do dia pedindo cotação no balcão da empresa. O homem disse na conversa telefónica que podia montar o vidro numa esquina e cobrar menos em relação à cotação dada por ele mesmo na empresa. Recusei a oferta. A seguir ele pediu para não dizer a ninguém na sua empresa.

O cancro corrupção instalou-se comodamente na sociedade.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, na sua edição de 16 de Setembro de 2020, na rubrica semanal O RANCOR DO POBRE

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