Guebuza era visionário?

Com a exposição, na media internacional, do calote dado por Moçambique na construção do Aeroporto de Nacala, submergem na memória os hossanas que exaltavam Armando Emílio Guebuza, nosso último estadista!

No boom dessa exaltação, a presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, chegou mesmo a considerá-lo, em 2013, na abertura da VIII sessão ordinária daquele órgão, de “… o filho mais querido do povo moçambicano, o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, que, com a sua inteligência e perseverança, tem, com mestria, conduzido a Nação Moçambicana para patamares de excelência…”

A bolada das Ematuns, MAMs e Proindicus, como se pode aferir pelo timeline das mesmas, estava em curso e Verónica Macamo e os outros 249 deputados eram simplesmente ignorados, a Constituição da República pontapeada e hoje por hoje o país está como está! De tangas!.

Porque era preciso encobrir o que se simulou soberano, uma falange de intelectuais, gente pensante, formada, em número igual aos integrantes da gang do lendário Ali Babá, adensavam os ingredientes que Verónica Macamo já tinha metido no panelão. Guebuza então chegou a ser considerado por aqueles como “Guia incontestável de todos nós”!!!

Os 40 passaram então a agir numa sintonia endeusando Guebuza pelas obras de vulto que estavam a acontecer, como um marco sem paralelo na história da governação em Moçambique!

Nenhum deles quis-se lembrar que no dia 26 de Junho de 2012, durante a cimeira do Rio de Janeiro, o Presidente Guebuza foi jantar em casa de Murilo Ferreira, o presidente da multinacional Vale do Rio Doce, facto esse que aconteceu em viagem de Estado e foi denunciado na imprensa nacional e internacional.

A procissão de “hossanas” ao Presidente Guebuza, por via de uma media bem identificada, foi das piores coisas que podiam acontecer a um comum mortal.

A empresa Odebrecht, que construiu o aeroporto, revelou para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos que realizou “pagamentos corruptos” no valor de US$ 900 mil para autoridades moçambicanas, entre 2011 e 2014, período de construção da infra-estrutura “fantasma”, conforme retrata a matéria da BBC Brasil.

Guebuza, nos dias finais da sua chancelaria, teria dito ao semanário dominical que se edita na ex-Av Joaquim Lapa (actual Joe Slovo) que “Quero ser lembrado como uma pessoa amiga do povo”!

A conjectura e os cenários não jogam a favor de nenhum amigo do povo, mas sim de um gangster que sob a veste de libertador fornicou a pátria!!

Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: Guebuza era mais visionário em que medida?

LUÍS NHACHOTE

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição do dia 30 de Novembro de 2017, na versão PDF do jornal Correio da manhã, na rubrica semanal DO LADO DA EVIDÊNCIA

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