Relações Angola e África do Sul

 

Eu considerava muito estranho o relacionamento frio entre Angola e África do Sul democrática depois da queda do regime do apartheid que tentara destruir Angola. Mesmo durante o consulado do carismático pai da democracia e da nação arco-íris sul-africana, Nelson Mandela, as relações entre os dois países eram frias, apesar de discursos de irmandade entre o ANC e o MPLA.

Angola pagou um grande preço pela liberdade da África do Sul. Foi o único país da região da África Austral que sofreu uma invasão de grande escala das forças armadas do regime do apartheid em apoio à UNITA, de Jonas Malheiro Savimbi contra o governo do MPLA.

Estranhamente, depois da liberdade em 1994, as relações entre os dois países mantiveram-se frias, mesmo com um governo democrático e multirracial liderado pelo ANC, cujos guerrilheiros tiveram bases em Angola apoiado pelo governo do MPLA, sob liderança do engenheiro petrolífero José Eduardo dos Santos.

A mudança da liderança governativa em Angola trouxe uma lufada de ar fresco nas relações entre os dois países.

O dia 24 de Novembro de 2017 abriu uma nova página.

O novo presidente angolano, o general na reserva João Lourenço, escolheu a África do Sul para realizar a sua primeira visita de Estado ao estrangeiro desde que assumiu o poder em Setembro passado.

João Lourenço disse que a escolha da África do Sul não foi de modo algum aleatória. Explicou que foi uma opção consciente de reconhecer a importância dos laços históricos que unem os dois países e que se fundam num combate comum contra o apartheid e a favor da libertação e democratização da região austral de África.

João Lourenço era acompanhado por cerca de 10 ministros e jornalistas de cinco órgãos de comunicação social.

À margem das conversas oficiais que culminaram com a assinatura do acordo de supressão de vistos em passaportes normais para visitas de 30 dias, o Rancor do Pobre percebeu que a governação do engenheiro petrolífero era menos aberta para o reforço das relações entre os dois países.

O presidente João Lourenço disse que Angola deve aprender com a África do Sul o processo de transformação de uma economia paralela e informal para uma economia na qual as empresas são devidamente auditadas e cotadas em bolsa, proporcionando maiores ganhos e maior transparência na gestão da coisa pública.

Estas palavras dizem uma montanha de coisas. São um contraste com o passado recente de Angola do engenheiro petrolífero.

Nos primeiros 60 dias da sua governação, dizem que o general na reserva exonerou cerca de 60 dirigentes de empresas estratégicas angolanas, incluindo Isabel dos Santos, filha feita empresária de sucesso, que dirigia a SONANGOL – a empresa estatal de petróleos, principal fonte de receitas para o Estado angolano.

Angola está a mudar. Mas a existência de dois centros de poder pode atrasar as mudanças: José Eduardo dos Santos dirige o MPLA, no poder.

Por enquanto parece que o general na reserva enterrou o machado de guerra com a África do Sul para o bem do povo.

Com petrodólares, os dirigentes faziam compras na Europa em euros e no Brasil em reais e o povo “chupava dedos” com kwanzas. Agora pelo menos podem visitar a vizinha África do Sul, país mais industrializado em África.

THANGANI WA TIYANI

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição do dia 29 de Novembro de 2017, na versão PDF do jornal Correio da manhã, na rubrica semanal Rancor do Pobre

 

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