Há haters entre nós

Se você não entendeu o título é, provavelmente, porque este texto não é dedicado a si, mas é de muitas formas sobre você.

Haters, singular hater, é uma palavra emprestada do inglês pelos jovens e adicionada ao seu jargão corrente. É comumente usada para denominar indivíduos invejosos ou inimigos.

Os haters, no caso, são os que têm medo do progresso.

Mais do que medo do progresso, têm medo de ver “as cenas a acontecerem”. Mais do que medo de verem as coisas a acontecerem, é um medo enorme de verem as coisas a acontecerem sem a sua presença, sem a sua intervenção.

Sem que sejam eles a ditar como as coisas devem acontecer e quando devem acontecer. Os haters, no caso, acham-se donos de um país e dos seus destinos por inteiro. Eles não aceitam a ideia de que podem ser desnecessários.

Criam na sua mente cenários fantasiosos e fantasmagóricos em que eles são heróis e na sua narrativa tudo tem de passar por eles senão nada funcionará. Mas estes heróis não escutam Jay-Z, por isso não sabem que “you can die a hero or live enough to see yourself become a villain.

Vou traduzir, porque, embora muitos deles tenham frequentado escolas no exterior e têm grau superior, têm dificuldades gritantes com a língua inglesa. Não vou traduzir de forma literal, porque há muito que não queremos mais perder tempo com os haters: “mora herói ou viva o suficiente para se tornar o vilão.

Eles não ouvem rap como a malta e é por isso que continuam agarrados a uma ideia de heroísmo que há muito morreu, estão como um velho presidente zimbabweano que, mesmo cambaleando, tropeçando e até caindo, não enxergava que estava na hora de se retirar.

Estes que um dia foram heróis e hoje anti-heróis não sentem que estão a viver um cenário nas suas mortes, são desejadas e muitas vezes comemoradas. Voltando aos anais da história, é possível designá-los num termo que eles percebem: “reacionários”, nas palavras de um herói que se retirou antes de cumprir a profecia do rapper que entende o nosso jargão.

São como um pai que não aceita entender que é preciso preparar os filhos para o futuro, para que dêem continuação ao seu legado. Eles não criam legados, acumulam e acumulam materiais e disputam espaços, oportunidades e até as “pitas com a malta”. Eles querem curtir o que a malta curte, querem ser vistos nos lugares que a malta frequenta, querem ser os “shuggas das nossas pitas.

E eles são tão haters e egoístas que nem ao seu próprio sangue são capazes de educar e incutir um pouco de bom senso. Deixam-lhes à deriva, iludem-nos com presentes, como filhos mimados que foram criados para ser. Mas não lhes ensinam o básico do respeito e tampouco a humildade. É possível ver os seus filhos pela cidade ou pelas redes a ridicularizam-se, porque se acham intocáveis e f*didos.

Sujam o nome dos seus genitores que já não apresentam grande asseio e reforçam a ideia de que, de facto, já não precisamos destes “heróis”. Mas não é só aos seus filhos que eles privam. Eles também privam-nos de uma educação de qualidade, de uma saúde de qualidade, porque, do mesmo jeito que não confiam o próprio legado aos filhos, também acham que não precisamos destas coisas.

Pois, segundo as suas ideias ilusórias distorcidas, eles estarão sempre aqui para garantir que as coisas funcionem como deve ser. Mas nem na sua presença elas funcionam. Espero eu que os menos de 300 médicos oftalmologistas de que o país dispõe e que estão em greve sejam suficientes para tratar a sua visão turva para que eles enxerguem que, de facto, tornaram-se desnecessários.

Ah, esqueci-me: as consultas de oftalmologia e as cirurgias necessárias podem levar até três anos nas filas de espera, logo seriam três anos à espera que a visão seja recuperada, para além de que os hospitais não dispõem de materiais, nem de uma simples água para lhes lavar o rosto e os olhos. Mas isso também não vem ao caso.

Espero que tenham discernimento o suficiente e que usem os grandes valores dos seus enormes planos de saúde para se dirigirem pelas estradas esburacadas e avenidas malcheirosas da cidade capital aos seus hospitais da elite onde não há greves salariais e tratarem disso logo. Está na hora de enxergarem que já não precisamos de haters.

STÉLVIO MARTINS

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 01 de Dezembro de 2023, na rubrica OPINIÃO.

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